Estará José Manuel Silva na iminência de fazer um “milagre”, o da conversão de um ícone da Inquisição em paradeiro de uma empresária judia? Se estiver, é segredo.
O propósito do jornalista era noticiar; mas, como a Câmara Municipal de Coimbra não lhe forneceu informação, resta-lhe opinar.
A 02 de Abril, ao abrigo do Estatuto do Jornalista (Lei nº. 01/99), requeri a prestação de esclarecimentos sobre o dossiê negocial envolvendo a autarquia e a empresária Nirit Harel.
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O Município conimbricense e a sua parceira assinaram um contrato com vista a dotar a autarquia de “serviços de assessoria em marketing e comunicação com o objectivo de captar investimento nacional e internacional”.
A execução do objecto do contrato esteve prevista para o primeiro trimestre de 2023 (já lá vão dois anos), mas, como é público, ele sofreu suspensão superior a um ano. Foi reatado, no primeiro semestre de 2024, com mais despesa associada, sendo pertinente, por isso, que a autarquia informasse o requerente acerca do ‘estado da arte’.
Por se tratar de um assunto acarinhado pelo líder do Município, José Manuel Silva, e por um irmão do autarca, João Gabriel Silva, nas vestes de presidente do Instituto de Pedro Nunes (IPN), era expectável que o dossiê já se encontrasse noutra fase de desenvolvimento.
A 02 de Abril, fiz notar à CMC que, em abono da transparência, é indispensável a autarquia fazer luz sobre aspectos nada claros do dossiê. Perguntei, então, se vai a autarquia ceder espaço a Nirit Harel, no pátio da Inquisição, para ela instalar um cowork. Em caso afirmativo, questionei quais os objectivos da iniciativa e o teor do entendimento entre a CMC e a empresária, que parece usufruir de invulgar espaço de manobra para contrair despesa em nome do Município.
Também quis saber em que pé está a impugnação a cargo do Município do registo da marca Baixinova feito pela empresária. A avaliar pela informação reunida pelo requerente, Nirit Harel terá cometido abuso de posição negocial. Em que medida pode este episódio beliscar o dossiê envolvendo a autarquia e a empresária? Eis, caros leitores, outra pergunta sem resposta.
A transparência no Município de Coimbra é um prodígio.

Parafraseando o Movimento de Humor, pela pena de José Augusto Gomes, “a transparência deve ficar apenas para o que o executivo camarário [de Coimbra] quer comunicar e ponto final”.
As perguntas são incómodas. O “País relativo”, de que falava Alexandre O’Neill, remete para o poder autárquico simbolizado por José Manuel Silva. Concluo citando o poeta: “País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano”.
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