13 de maio de 1994. Uma sexta-feira que ficou marcada, para sempre, na memória da vila de Oleiros, em Vila Verde, e, sobretudo, no coração de Maria de Jesus Silva. Foi nesse dia que Cláudia, a sua filha de apenas 7 anos, desapareceu sem deixar rasto.
Hoje, volvidos mais de trinta anos, o caso continua envolto em silêncio e mistério. O desaparecimento de Cláudia é um dos casos mais desconcertantes do país. Naquela sexta-feira, uma empregada da escola mandou-a ir a casa, como era hábito, buscar sacos do lixo. Saiu acompanhada por outro menino, mas regressou sozinho. Cláudia nunca mais chegou à escola.
Testemunhas da altura descreveram movimentações suspeitas. Uma vizinha recorda que o marido viu, nesse fim de tarde, um carro com dois homens e uma criança a gritar no banco de trás. Mais tarde, ao ouvir dizer que “roubaram a criança à Maria”, percebeu que podia ter presenciado o momento do rapto.
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Outra mulher, já falecida, relatou ter visto Cláudia a passar a correr e ouvido portas de carro a bater. Tudo indica que foi nesse instante que a menina foi levada, a poucos metros de casa.
Desde então, nem uma pista concreta. Nem um sinal. Apenas suposições, memórias confusas e o sofrimento de uma mãe que nunca desistiu de procurar. Com a dor, chegou a pesar 29 quilos. Existiram relatos de que a tinham vendido.
Apesar da dimensão emocional do caso, a mãe sente que nunca foi feito o suficiente. Questionada sobre a atuação das autoridades ao longo destas décadas, limitou-se a responder com um olhar de desânimo.
Hoje, Cláudia teria 38 anos. Teria feito anos no passado dia 13 de março. Mas para aquela mãe, o tempo parou em 1994. A casa continua a guardar brinquedos, recortes de jornais e memórias de uma filha que partiu sem aviso e sem destino.
A “Menina de Oleiros”, como ficou conhecida, nasceu numa sexta-feira 13. Desapareceu noutra sexta-feira 13. Um ciclo sombrio que continua por fechar.
Maria de Jesus Alves da Silva, desde o início acreditou que o rapto da filha pode ter tido mão de sangue.
Numa entrevista dada em 2021 ao jornal Luso, Maria de Jesus revelou que sempre desconfiou de uma prima, que, segundo ela, teria interesse em ficar com a menina. A relação familiar era marcada por tensões, e outros comportamentos levantaram suspeitas na altura, como o facto de uma tia, irmã do pai da Cláudia, ter solicitado uma certidão de nascimento da criança sem o conhecimento ou autorização dos pais.
Confrontada pela Polícia Judiciária, essa tia disse ter agido a pedido de outra irmã, que residia em Vila Nova de Gaia, alegando ter ouvido dizer que os pais da menina a tinham vendido por 400 contos. A mesma versão foi confirmada por essa segunda tia, que acrescentou ter sido informada de que Cláudia estaria em Espanha. Contactada com as autoridades espanholas, terá sido aconselhada a obter o documento oficial da criança para ajudar numa eventual investigação.
Apesar de todas estas declarações, nunca foi provado qualquer envolvimento da família no desaparecimento. A mãe de Cláudia rejeita firmemente todas as acusações que, ao longo dos anos, lhe foram dirigidas.
Cláudia tinha 7 anos quando desapareceu. Media pouco mais de um metro, tinha cabelo castanho e três cicatrizes visíveis: uma com cerca de 10 cm na coxa direita, outra no lábio inferior e mais uma num dedo da mão. São estas as marcas que a mãe guarda na memória, à espera de um reencontro que, com o passar do tempo, parece cada vez mais distante, mas que nunca perdeu o significado.
O mistério permanece. A esperança vacila. Mas para Maria de Jesus, enquanto viver, Cláudia continuará a ser procurada. Nem que seja no silêncio de cada noite.
Em 2017, as autoridades deixaram de investigar o seu desaparecimento. Nem o seu nome consta na página das pessoas desaparecidas da Polícia Judiciária.
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