Cidade
Cidadãos exigem transparência e frontalidade democrática
O movimento Cidadãos Por Coimbra afirma que a Câmara Municipal de Coimbra “repete o hábito de tratar os assuntos importantes de forma obscura e sem o menor sinal de apelo à participação democrática”.
A acusação do CPC consta do comunicado que emitiu a propósito da requalificação dos “Muros do Mondego”, iniciativa espera ver “tratada com transparência e frontalidade democráticas”.
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Os muros do rio Mondego, no troço entre o Parque da Cidade e o atual açude-ponte, constituem, desde há mais de 100 anos, um elemento central e definidor da imagem de Coimbra.
São uma parte nobre do seu património. Com efeito, não há coleção de fotografias ou de postais antigos da cidade que não inclua uma panorâmica de Coimbra alcandorada sobre o Mondego, tirada de Santa Clara. O casario branco da alta, coroado pelo paço das escolas e pela torre de universidade, tem sempre como base a linha contínua de cais, rampas e escadarias de contacto com o rio.
Ainda antes da invenção da fotografia, as estampas mais antigas de Coimbra representaram, de modo mais ou menos realista, a interação da cidade com o Mondego. A gravura de Hoefnagel/Braun do século XVI mostra umas caravelas ancoradas a cais e escadas de pedra; a de Baldi, do século seguinte, revela já um sistema contínuo de muros e de acessos ao rio – que teve na sua génese a regularização do leito fluvial e a defesa das frequentes cheias invernais.
Foi só no final do século XIX que se construiu o atual sistema de muros, rampas e escadas que acompanhou a construção de duas infraestruturas centrais da Coimbra moderna: a nova ponte metálica, aberta em 1875, e a chegada do caminho-de-ferro ao centro da cidade, em 1885. Essas rampas e escadas serviram ativamente o abastecimento de produtos agrícolas e de matérias-primas à cidade. Serviram também às célebres tricanas para lavaram a roupa da população coimbrã. No início do século XX, construiu-se o muro a montante da ponte e estabeleceu-se o parque da cidade.
Os muros do Mondego, ao fim de anos de abandono, estão em mau estado. Apresentam sinais visíveis de degradação ao longo de toda a extensão da margem. Decorrem, desde 2011, vários estudos, encomendados pela Câmara Municipal de Coimbra a entidades externas, que visam procurar soluções técnicas de estabilização dos muros. Como seria de esperar, as transformações propostas, nesses estudos, afetam de forma drástica a imagem dos muros do Mondego, propondo soluções – ao longo de uma extensão de 1120 metros – que não estão a ser apresentadas ao público nem estão a ser devidamente discutidas, carecendo da intervenção qualificada de técnicos adequados com responsabilidade no desenho do espaço público – arquitetos e/ou arquitetos paisagistas – numa zona tão crítica e de tão grande interesse para a cidade. Repete-se o hábito de tratar os assuntos importantes de forma obscura e sem o menor sinal de apelo à participação democrática.
Numa época de grande concorrência entre as cidades, são projetos de qualidade que dão visibilidade às urbes contemporâneas e que atraem cada vez mais pessoas, tanto residentes como turistas.
É disso exemplo a recente e exemplar reabilitação da marginal da Ribeira das Naus em Lisboa, junto ao Terreiro do Paço.
Mais uma vez, o atual executivo municipal prepara-se para passar ao lado de uma oportunidade histórica de promover um projeto urbano de qualidade para a nossa cidade. O movimento Cidadãos por Coimbra defende a concretização de um projeto urbano de qualidade, através da realização de um concurso público de arquitetura e de engenharia, que permita associar o redesenho qualificado das margens do Mondego e do espaço público à necessária reparação do sistema de muros e rampas do rio – dando continuidade ao louvável projeto do parque verde do Mondego (também ele resultado de um concurso) iniciativa que as forças cívicas independentes de Coimbra, desde sempre, incentivaram e apoiaram. Espera-se que, desta vez, uma proposta como esta seja tratada com transparência e frontalidade democráticas.
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