A segurança sísmica das habitações tem sido um tema cada vez mais debatido, especialmente em regiões de maior risco, como Lisboa, Faro, Santarém, Setúbal e Açores.
No entanto, uma análise do Imovirtual, portal imobiliário de referência em Portugal, revela que estas áreas continuam a apresentar um parque habitacional maioritariamente antigo, o que pode comprometer a resiliência estrutural em caso de sismo.
Esta análise teve por base os imóveis anunciados na plataforma, considerando apartamentos e moradias para venda e arrendamento, sendo que 51% dos anúncios publicados continham informação sobre o ano de construção. Apesar de esta amostra representar metade do total, os dados revelam uma tendência clara: a predominância de edifícios anteriores ao ano 2000 em zonas de maior risco sísmico, reforçando a necessidade de renovação do parque habitacional.
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Em Lisboa, apenas 37% dos imóveis analisados foram construídos após o ano 2000, o que significa que 62% ainda pertencem a um período anterior a normas sísmicas mais rigorosas. O mesmo acontece em Faro, onde 51% das habitações são antigos, e em Santarém e Setúbal, onde essa percentagem sobe para 78% e 50%, respetivamente. Nos Açores, um dos arquipélagos mais ativos do ponto de vista sísmico, 82% das habitações na Ilha de São Miguel foram construídas antes de 2000, evidenciando a necessidade de renovação do parque habitacional.
Já no Porto e na Madeira, os dados revelam uma realidade oposta. No Porto, cidade sem histórico significativo de atividade sísmica, 63% das casas disponíveis são novas, o que reflete um mercado mais recente e menos exposto ao impacto de edifícios antigos. A Ilha da Madeira, embora ainda detenha um número significativo de imóveis antigos, destaca-se como a região insular com a maior percentagem de novas construções (61%).
Além das diferenças regionais, a tipologia da oferta habitacional reflete um desajuste entre a procura por segurança e a disponibilidade de imóveis no mercado. Atualmente, 71% dos imóveis novos são apartamentos e apenas 29% são moradias, demonstrando que a construção mais recente privilegia a verticalização e otimização do espaço urbano. Em contraste, nos imóveis antigos, 43% são apartamentos e 57% são moradias, evidenciando que a oferta habitacional do passado se centrava em soluções unifamiliares, que podem oferecer maior resistência estrutural em caso de sismo.
Outro ponto crítico é a escassez de imóveis novos disponíveis para arrendamento. A análise do Imovirtual revela que a maioria das construções recentes se destina à venda, com 69% dos imóveis novos a serem apartamentos para compra e 29% são moradias para compra. Já a oferta de habitação nova para arrendar continua extremamente limitada, representando apenas 2% nos apartamentos e 0,2% moradias. Esta falta de opções pode dificultar o acesso a habitações mais seguras para quem prefere arrendar em vez de comprar, seja por questões económicas ou por necessidade de maior flexibilidade.
Contudo, a segurança habitacional tem, naturalmente, um custo associado. O preço médio de um imóvel antigo em Portugal situa-se nos 266.666€, enquanto as habitações construídas após 2000 atingem os 380.000€, representando uma valorização de 42%. Esta diferença reflete-se não só na eficiência energética e qualidade de construção, mas também na resistência sísmica e conformidade com normas mais recentes, tornando os imóveis novos mais atrativos para quem procura maior segurança a longo prazo.
“Os dados mostram que Lisboa, Faro e outras regiões sísmicas continuam a apresentar um parque habitacional maioritariamente antigo, o que pode representar desafios significativos em termos de segurança. A falta de renovação do parque imobiliário, aliada ao elevado custo dos imóveis novos, levanta questões sobre a preparação destas zonas para um evento sísmico. Incentivar a construção moderna e acessível será essencial para um mercado imobiliário mais resiliente”, afirma Sylvia Bozzo, Marketing Manager do Imovirtual.
Embora o Porto e a Ilha da Madeira apresentem uma renovação habitacional mais avançada, Lisboa, Faro e Açores continuam dependentes de um parque imobiliário envelhecido, reforçando a necessidade de políticas públicas e incentivos para reabilitação urbana e construção acessível.
Com a crescente preocupação com eventos sísmicos e a segurança habitacional, o setor imobiliário poderá assistir a uma mudança nas preferências dos consumidores nos próximos anos. A aposta na construção de imóveis novos e no incentivo ao arrendamento acessível poderá ser um dos caminhos para garantir um parque habitacional mais seguro e preparado para o futuro.
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