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Museu do Neo-Realismo dedica exposição a percurso intelectual de Carlos Paredes

Notícias de Coimbra com Lusa | 9 horas atrás em 17-03-2025

O Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, traçou “uma espécie de biografia cultural” do guitarrista português Carlos Paredes, numa exposição que é inaugurada no sábado.

“O que a exposição traz de novo é a relação que vamos estabelecer com o Neorrealismo, na medida em que Carlos Paredes partilha os objetivos com os neorrealistas, que vinte anos antes iniciaram um movimento da arte do povo para o povo”, explicou à agência Lusa um dos curadores, Jorge Carvalho.

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A exposição intitula-se “Uma guitarra com gente dentro” e procura “dar uma nova imagem sobre Carlos Paredes, sobre algo que era mais desconhecido na vida dele, o percurso intelectual, as suas conceções sobre Cultura, o seu percurso político de militante comunista, resistente antifascista”.

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Numa das salas do Museu do Neo-Realismo, a mostra apresentará “algumas fotografias que estavam perdidas, com [o escritor] Manuel da Fonseca, com [os músicos] Adriano Correia de Oliveira e Luís Cília”, além de capas de álbuns, textos que Carlos Paredes escreveu para a imprensa.

Estará ainda exposto o manuscrito de um conto de Soeiro Pereira Gomes que inspirou Carlos Paredes a compor o tema “Amargura”, do álbum “Asas sobre o mundo” (1989).

Para os curadores, a exposição tenta fazer “uma espécie de biografia cultural” sobre Carlos Paredes, sobre a sua formação, a influência não só do pai, o guitarrista Artur Paredes, mas também da mãe, Alice, “que teve um papel essencial na formação dele”.

“É ela que lhe vai dar muita da consciência política e social, e na forma como se vai ligar ao Partido Comunista”, disse Jorge Carvalho.

Para o curador, a exposição demonstra “que a música do Carlos Paredes não nasce do nada, não é arte pela arte. É uma arte baseada na realidade”.

A exposição “Uma guitarra com gente dentro”, que ficará patente até 08 de junho, acontece na sequência de uma proposta feita pela autarquia ao Museu do Neo-Realismo e decorre fora do âmbito das comemorações oficiais do centenário do nascimento de Carlos Paredes, que se assinala ao longo de 2025.

Carlos Paredes nasceu em Coimbra, a 16 de fevereiro de 1925, e morreu em Lisboa, a 23 de julho de 2004.

Paredes deu continuidade a uma linha familiar de gerações de músicos, mantendo-se leal à tradição e ao estilo de origem, tocando a guitarra de Coimbra, com a afinação do fado de Coimbra.

Porém, imprimiu uma abordagem pessoal, que o levou aos principais palcos mundiais e a trabalhos conjuntos com outros grandes intérpretes, como o contrabaixista norte-americano de jazz Charlie Haden, com quem editou o álbum “Dialogues”.

Carlos Paredes viveu, sobretudo, em Lisboa e a cidade inspirou muitas das suas composições. “Verdes Anos”, uma das mais conhecidas da sua obra, foi composta para o filme homónimo de Paulo Rocha, marco do Novo Cinema português dos anos de 1960.

Combatente antifascista, opôs-se à ditadura e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950, tendo sido encarcerado na Cadeia do Aljube e no Forte de Caxias.

Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a atividade como administrativo no Hospital de São José, em Lisboa. “Sou funcionário público. Não é uma profissão que me agrade muito, mas é uma profissão muito digna”, afirmou, citado no livro “Amigo Paredes”, de Paulo Sérgio dos Santos.

Em dezembro de 1993 foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar a guitarra. Ainda assim, nesse ano começou a gravar o último álbum, “Canção para Titi”, que seria editado apenas em 2000.

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