José Manuel Portugal, reputado professor universitário, conceituado jornalista e dinâmico investidor no ramo do alojamento em Coimbra, está muito triste e lamenta a partida do seu querido amigo Netter.
O ex-diretor de informação da RTP recorreu à sua página do Facebook para lamentar a morte do “meu cão” e deixa um testemunho de levar um benfiquista “às lágrimas”
“Carta a um grande amor que partiu…
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Escrevo-te para tentar mitigar esta dor profunda que me morde por dentro.
A tristeza senta-se ao meu lado nas lágrimas que deixo cair por ti.
Morreste-me e levas contigo uma boa parte de mim.
Fomos tanto um para o outro.
Sabemos que fomos a tua vida toda. Sempre juntos!
Há dias cinzentos, carregados de chumbo, que nos ficam a marcar para todo o sempre.
Despedi-me de ti mas não há partida alguma que consiga matar a tua presença.
Afaguei ternamente o teu corpo quieto, ainda quente, e senti que dizia adeus a um dos grandes amores da minha vida…
Em cada toque meu no teu corpo inerte deixei todas as memórias que contigo partilhei.
Ao ouvido, debaixo daquelas tuas grandes e peludas orelhas, onde tanto gostavas que te mexesse, segredei-te amor perpétuo e agradeci-te pelo mundo de felicidade que me deste.
Desculpa, mas não resisti e até te toquei nas patas, mesmo sabendo que não gostavas.
Respirei fundo o teu cheiro e sei que nunca mais o esquecerei.
Nas minhas mãos viverá para sempre aquele último toque que pousei no teu corpo.
Quero dizer-te também que estavas lindo, sereno e que, mesmo de partida, mantiveste até ao fim a tua imponente nobreza.
Levei-te o teu filho para que, também ele, se despedisse de ti e de todas as brincadeiras que juntos fizeram.
Durante tantos anos foram a sombra um do outro e agora, que vai caminhar sem ti, tinha de to levar pela última vez.
E como ele se portou bem. Cheirou-te de ponta a ponta, lambeu-te com ternura e pareceu compreender a solenidade do momento. Que lição emocionante!
Netter, meu velho amigo de quatro patas, meu cúmplice de silêncios, tardes e madrugadas, agora que adormeceste tranquilo, preciso de te dizer que a tua ausência me segue e nunca me deixará. Foste único.
Agora que partiste, percebo melhor o tanto que aprendi contigo.
Eras um mestre na arte de dar, na presença que não pede nada em troca, no cuidado que se expressa em estar, apenas estar…
Hoje, a casa amanheceu mais vazia.
O silêncio ganhou um peso estranho e os dias parecem ter perdido um dos seus gestos mais simples: aquele em que me esperavas sem pressa e, ao lado do teu filho, aguardavas o momento de ir à rua… correr no esplendor da relva.
Agora a casa tem um vazio que não se apaga.
Uma ausência que anda pelos cantos e me segue sem patas…
Aqui estou eu rodeado pelas coisas que te lembram.
Eras o silêncio que respirava ao meu lado, quando o teu olhar dizia mais do que mil poemas. Eras a sombra mais fiel que nunca me deixava só.
Ao contrário do que parecia, nunca falaste… mas dizias tudo. Olhavas-me como quem sabe o que eu próprio não ousava dizer.
Ainda “ouço” os teus olhos a dizerem-me coisas que sempre soube entender…
E agora? Agora não há mais os teus olhos a seguirem-me, não há o som dos teus passos na espera dos meus regressos.
Quem carregará no peito o sol sem nunca pedir nada além de um olhar e… de um biscoito? Quem se deitará quando eu disser “reboleixo”? Quem mergulhará na piscina destemidamente como tu o fazias?
O tempo apaga tudo, dizem. Mas não é verdade. O tempo apenas nos ensina a carregar o que nos faz falta… e tu, faltar-me-ás sempre, como falta tudo o que um dia foi nosso e se perdeu.
Não há tristeza que possa apagar a tua alegria e, em algum lugar, entre o vento e as estrelas, deves estar a correr pelos campos do impossível, como se fosses feito de liberdade.
Acredito que Deus, que cuida até dos lírios do campo e das aves do Céu, há de ter um espaço especial para ti, onde possas continuar a ser alegria sem nome, companhia sem palavras.
A partida sem regresso algum, marca o território definitivo da memória para sempre…
Meu querido Netter, hoje despeço-me outra vez de ti, mas não te perco.
Ficas comigo no mistério das coisas que nunca se vão e prometo que nunca deixarás de andar comigo.
E agora vai… corre livre nesses campos que não conhecem adeus!
Um dia, quando a noite cair sobre mim, quando eu próprio for só vento e memória, sei que estarás aí desse lado à minha espera…paciente, como sempre!
Adeus “meu cão” e até esse dia…
PS- Sei que gostarias que agradecesse por ti o enorme carinho e a dedicação como te tratou o Prof. Nuno Cardoso e toda a sua equipa durante os teus 15 anos e 3 meses de vida.”
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