A prova pericial que condenou um médico do Porto no século XIX, enterrado junto ao escritor Camilo Castelo-Branco, foi reanalisada com técnicas científicas recentes que concluíram que hoje não seria condenado, revelou o investigador forense Ricardo Dinis-Oliveira.
Na reconstituição do caso, contou o próprio à Lusa, o investigador do Instituto Universitário de Ciências da Saúde – CESPU começou a suspeitar que os resultados das provas toxicológicas encontradas podiam ter sido intencionalmente fabricados ou acidentalmente identificados sem que na verdade existissem.
Passados 130 anos, o investigador, que é também fundador da Associação Portuguesa de Ciências Forenses, descobriu o corpo da vítima, em bom estado de conservação, e obteve autorizações para a autópsia.
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A conclusão foi que os compostos encontrados nas análises toxicológicas no século XIX, que tinham incriminado o médico do Porto, não estão presentes no corpo.
O investigador considera altamente plausível que o especialista forense que na altura recolheu a prova pericial não soubesse o que estava a fazer e tivesse achado que tinha encontrado uma coisa que afinal era outra.
Isto porque, explicou, os produtos de putrefação do cadáver confundem-se com muita coisa e o especialista forense do século XIX pode não ter tido um olho treinado.
Essas substâncias não se perdem com o tempo, frisou, pelo que teriam de ter sido encontradas agora, com tecnologia do século XXI, afirmou o especialista.
Os restos mortais do médico do Porto estão depositados num jazigo da família no cemitério da Ordem da Lapa, o mais antigo da cidade do Porto, jazigo que acolhe também os restos mortais do escritor Camilo Castelo Branco.
O célebre romancista terá pedido a José António de Freitas Fortuna, homem de negócios da rua das Flores, que acolhesse as ossadas no jazigo da família, que acolhe também os do médico Urbino de Freitas, envolvido num caso de envenenamento de um sobrinho e condenado a oito anos de prisão seguidos de um exílio de 20 anos, primeiro em Angola e depois no Brasil.
O médico foi acusado de envenenar dois familiares para ficar com a herança da família, acusação que se baseou em provas toxicológicas recolhidas que o incriminavam.
O crime foi agora reconstruído pelo investigador português através da recolha de documentos históricos e busca de um cadáver com 130 anos.
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