Tribunais
Grupo que controlaria venda de droga no interior da região é julgado em Coimbra
O Tribunal de Coimbra começa a julgar na terça-feira nove arguidos suspeitos de pertencerem a um grupo que assegurava o tráfico de droga no interior do distrito e que terão arrecadado uma receita de pelo menos 250 mil euros.
Entre 2021 e 2023, o grupo assegurava tráfico de droga (sobretudo cocaína e canábis) na Lousã, Vila Nova de Poiares, Miranda do Corvo e concelhos vizinhos, com cada arguido a desempenhar funções definidas, numa organização que foi sofrendo alterações na liderança e até disputas sobre o território e o controlo da operação de tráfico de droga, segundo a acusação a que a agência Lusa teve acesso.
No Tribunal de Coimbra, serão julgados nove homens, a maioria na casa dos 20 anos, cinco dos quais presos (quatro preventivamente e um a cumprir uma pena), mas, de acordo com o Ministério Público (MP), haveria um outro indivíduo envolvido, que, entretanto, morreu.
Numa acusação com cerca de 100 páginas, o MP explica que o grupo começou por ser liderado por um jovem de 25 anos, que terá estruturado a organização, com hierarquia clara e tarefas definidas, juntando pessoas que já participariam no tráfico de forma autónoma.
Rodeado de dois braços direitos, o líder desenhou uma organização que procurava fugir à atenção das autoridades, com troca regular de residências e esconderijos para a droga, mudança frequente de telemóveis e uso de carros de terceiros (que eram coagidos) nas deslocações ao Porto, para a compra da droga, segundo o MP.
O líder nunca usava o seu telemóvel para contactar com os restantes arguidos e raramente entrava em contacto direto com a droga, aplicando ainda métodos de contra vigilância.
Estabelecendo contactos a partir das redes sociais, o grupo tinha predileção pelo uso de aplicações de mensagens encriptadas, como o WhatsApp ou o Telegram, vendendo a droga quer a intermediários na região quer diretamente aos consumidores.
Ao longo de 2021 e 2022, outros arguidos foram-se juntando ao grupo, entre os quais mais uma espécie de braço direito do líder do grupo.
Eram esses três colaboradores mais diretos que estabeleciam os contactos com consumidores e vendedores intermediários.
No entanto, o grupo veria a sua dinâmica ser profundamente alterada quando em julho de 2022 o líder foi condenado a três anos de prisão efetiva, o que levou à sua detenção em Figueiró dos Vinhos.
Apesar de ainda ter tentado controlar o grupo a partir da cadeia, rapidamente a estrutura foi-se desfazendo.
Um dos seus braços direitos, com quem mantinha contacto, tentou manter a operação, mas os outros dois colaboradores mais diretos passaram a organizar um grupo paralelo, conta o MP.
A fratura levou o homem da confiança do líder a ter de fugir para a Figueira da Foz, ameaçado pelos outros dois arguidos.
De acordo com o MP, a nova liderança não tinha o mesmo cuidado nos contactos que fazia, mas, apesar disso, foi crescendo em termos de colaboradores e área de atuação.
No entanto, esta nova liderança durou apenas até abril de 2023, quando os dois novos líderes viajaram para França, de forma temporária.
Na ausência, um colaborador do grupo ficou com o contacto do fornecedor no Bairro da Pasteleira no Porto e terá aproveitado o momento para assumir as rédeas do grupo, que rapidamente passaram de mão para um outro homem, que alegadamente recorreu a ameaças para estruturar a organização à sua volta.
Regressados de França, os antigos cabecilhas terão acabado por se sujeitar à nova liderança.
Entretanto, em julho, o grupo seria desmantelado, com uma série de detenções e apreensões.
Os nove arguidos são todos acusados de tráfico de droga agravado e seis de associação criminosa.
No processo, estão ainda referidos crimes de coação agravada, ofensa à integridade física qualificada, detenção de arma proibida, simulação de crime e condução sem habilitação legal.
O julgamento começa na terça-feira, às 09:15.
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