A coordenadora do BE considerou hoje uma “enorme irresponsabilidade” que governantes como o primeiro-ministro português falem em aumentar o investimento em defesa num contexto de “fragilidade dos serviços públicos”, criticando esta “narrativa perigosa”.
Mariana Mortágua falava aos jornalistas à margem de uma ação no âmbito das jornadas parlamentares do partido, que decorrem hoje e terça-feira, em Coimbra, altura em que foi questionada sobre as declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que a propósito da visita a Portugal do secretário-geral da NATO, Mark Rutte, admitiu antecipar “ainda mais” o calendário que prevê que Portugal atinja em 2029 os 2% do PIB em despesas militares.
“Enquanto a Europa, enquanto os Estados Unidos, vão sucumbindo à precariedade, aos baixos salários, às más condições de vida, a uma crise de habitação como nunca se viu, à fragilidade imensa dos serviços públicos, na saúde, na educação, os governantes destas potências económicas só conseguem pensar em comprar bombas, em comprar minas e em comprar mísseis. É uma enorme irresponsabilidade”, criticou.
PUBLICIDADE
A coordenadora bloquista defendeu que “o dinheiro dos impostos portugueses tem que servir para manter os hospitais abertos e as escolas abertas, porque esse é um investimento no futuro que podemos fazer”, e insistiu que os esforços do Governo português devem ser investidos “nas condições da paz e do respeito pelo direito internacional”.
“Agora, ver governos que não têm nenhum problema em pôr o direito internacional no lixo, que não fizeram nenhum esforço para construir a paz – que nós consigamos ver – e que depois nos dizem que temos que investir menos na saúde e investir mais em mísseis, acho que é uma narrativa perigosa e que temos que contrariar, e por isso vejo como maior das preocupações essas declarações, tanto do primeiro-ministro como do secretário-geral da NATO”, afirmou.
Depois de afirmar que “o direito internacional foi deitado ao lixo” em Gaza, Mariana Mortágua foi questionada sobre se espera que o parlamento aprove esta semana o reconhecimento do Estado da Palestina, com várias iniciativas em debate na quinta-feira.
“Não quero dar essa causa como perdida, e acho que reconhecer o Estado da Palestina tem hoje um valor mais importante do que teve algum dia, mesmo que esse valor seja simbólico, mas é um valor simbólico com consequências práticas, e portanto acho que é muito importante que o parlamento possa reconhecer o Estado da Palestina, que outros partidos tenham juntado a essa tarefa, falo nomeadamente do PS que mudou de posição e entendeu avançar com este projeto, ainda bem que o fez, espero que possa haver uma maioria”, respondeu.
A intenção do primeiro-ministro português de antecipar o calendário previsto para que Portugal atinja os 2% do PIB em gastos militares foi anunciada hoje no final de um almoço de trabalho com o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, na residência oficial em São Bento, em Lisboa, em que ambos prestaram declarações sem direito a perguntas.
“Quero dizer, em nome do Governo português, que estamos disponíveis para antecipar ainda mais o nosso calendário para o investimento nesta área”, assegurou, sem apontar uma data em concreto.
O primeiro-ministro defendeu que a União Europeia “tem de atuar em bloco” e concertar a estratégia e localização de investimentos em defesa, sem “triplicar ou quadruplicar” as suas apostas.
Na mesma declaração, Montenegro afirmou que o compromisso do Governo em reforçar o seu investimento em Defesa será feito sem “colocar minimamente em causa o equilíbrio financeiro” ou o Estado social.
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, defendeu que canalizar 2% do PIB de cada Estado-membro já não é suficiente para a defesa da Europa, em linha com o que o Presidente dos Estados Unidos afirmou esta semana.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE