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Cinza, entulho e silêncio nas zonas destruídas pelos incêndios em Los Angeles
Imagem: Noah Berger / AP Photo
Os tanques da Guarda Nacional norte-americana que bloqueiam as estradas em torno de Pacific Palisades e Malibu, bairros históricos na costa de Los Angeles devastados pelo fogo, escondem um cenário de cinza, entulho e silêncio.
“Isto é duro até para nós”, disse à Lusa um inspetor de danos, que está a trabalhar em Pacific Palisades e não quis identificar-se. “Vi brinquedos nos escombros. Abracei os meus filhos com mais força quando cheguei a casa”.
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Equipas de inspetores fazem uma primeira avaliação e colocam uma fita cor-de-rosa na propriedade, para assinalar na contagem. É assim que está a ser construído o mapa dos danos provocados pelos grandes incêndios de Palisades e Altadena, os mais devastadores e mortíferos de todos os que assolaram o condado na última semana.
Pacific Palisades é agora uma cidade fantasma, onde poucas casas continuam de pé. Há carros completamente derretidos no que antes eram garagens e pouco ou nada distinguível do que há dez dias eram salas, quartos ou cozinhas.
Nas zonas de colina, de onde se vê o mar, o silêncio é quase opressivo. O vento levanta a cinza e transporta o cheiro intenso a queimado, que não se consegue suportar sem máscara N-95, mas não traz nenhum som. Não se ouvem os animais, máquinas ou pessoas que davam vida a estes bairros até há pouco mais de uma semana. Todas as ruas estão vazias e as casas descarnadas, na maior parte das vezes completamente no chão.
Mas há uma coisa em comum a todas elas: as chaminés permanecem de pé, tal como paredes em tijolo e algumas fontes e vasos de barro. Tudo o resto é branco e negro, destruído pelo fogo selvagem que deflagrou a 07 de janeiro.
Em Palisades e Malibu, tal como na maior parte de Los Angeles, as casas são sobretudo feitas de madeira e contraplacado, mesmo as que custam milhões de dólares. É não apenas o padrão no país, mas também uma opção que torna menos perigoso passar por um terramoto, algo a que os residentes da região estão bastante habituados.
No entanto, o uso destes materiais torna os incêndios devastadores, como está patente nas zonas onde a Lusa observou o rescaldo do desastre.
Além dos inspetores, há ruas onde começam os trabalhos de verificação de riscos – por exemplo, pela empresa que fornece gás – e mitigação de perigos, como árvores ardidas em risco de tombar e buracos no chão.
A polícia e Guarda Nacional patrulham a área, garantindo que as (poucas) casas que resistiram não são alvo de saques e que os residentes não regressam até o perigo ser debelado. Quem consegue provar que morava ali pode entrar durante uma hora, mas depois tem de sair e não pode fazê-lo todos os dias. São medidas para garantir a segurança num ambiente inóspito.
Na Sunset Boulevard, onde muitos residentes abandonaram os carros e fugiram a pé, carrinhas de reboque começam a remover os veículos incinerados. Colocam um “X” em cor-de-laranja naqueles que estão identificados e levam-nos para a sucata. Aqueles que não arderam estão danificados, porque os bombeiros tiveram de abrir caminho para socorrer as zonas de habitação. Tudo em volta está queimado.
O cenário é o mesmo quando se desce a Sunset Boulevard e se desemboca na Pacific Coast Highway em direção a Malibu. Do lado direito, os desfiladeiros estão negros, consumidos pelo fogo. E do lado esquerdo, frente ao mar, há estruturas de ferro, cimento e metal retorcido, como num cenário de guerra.
O fogo saltou a estrada e chegou ao outro lado, levando tudo pelo caminho. Sítios históricos desapareceram, como o Topanga Ranch Motel, eaqui e ali há veículos queimados. Ao lado, da famosa adega Rosenthal Winery sobraram apenas as cadeiras coloridas gigantes que tinha à porta.
Os trabalhos de limpeza e reconstrução começam lentos, com o fogo em 27% de contenção, e há muitas dúvidas quanto às ajudas que estarão disponíveis. Boa parte dos proprietários ou não conseguiu um seguro contra desastres naturais ou viu as suas apólices terminadas recentemente, visto que as seguradoras estão cada vez mais adversas a aceitar contratos em zonas que evidenciam o impacto das alterações climáticas.
O departamento de seguros da Califórnia emitiu uma proibição de cancelamento e não renovação de apólices retroativo aos três meses anteriores ao fogo e estendido por um ano, para que os proprietários possam obter pagamentos referentes às perdas.
Mas este é um problema cada vez maior na Califórnia, que nos últimos dez anos teve fogos muito destrutivos. O mais mortífero foi o Camp Fire, em 2018, que queimou completamente a cidade de Paradise e provocou a morte a 85 pessoas.
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