Educação
Saúde reprodutiva deve integrar os currículos do secundário em Portugal
Um estudo europeu revela que os jovens portugueses consideram o seu conhecimento sobre saúde reprodutiva limitado, mas mostram grande interesse em aprender mais.
Esta é uma das conclusões do Fertility Awareness Project, uma iniciativa desenvolvida pela Fertility Europe e pelas associações nacionais da Bulgária, Noruega, Polónia e, no caso de Portugal, pela Associação Portuguesa de Fertilidade, para responder a problemas de infertilidade e ao recuo demográfico europeu. Os resultados finais serão apresentados no Parlamento Europeu em março de 2025.
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“Faz todo o sentido rever conteúdos de saúde reprodutiva e incluí-los nos currículos do ensino secundário em Portugal”, afirma Ana Galhardo, psicóloga investigadora e docente do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), em Coimbra, uma das investigadoras portuguesas do projeto. “De uma primeira fase deste estudo emerge claramente a ideia de que no nosso país os adolescentes estão abertos e interessados em saber mais acerca da sua fertilidade e dos fatores que a podem influenciar”.
Segundo Ana Galhardo, “faz parte da formação integral das novas gerações capacitá-las para tomarem decisões conscientes sobre a sua vida reprodutiva, num contexto de crescente preocupação com a evolução demográfica da Europa e, sobretudo, de Portugal”.
O estudo, que envolveu adolescentes entre 15 e 18 anos, destacou a importância de compreender fatores que influenciam a fertilidade – como a idade, os estilos de vida e a saúde sexual e reprodutiva – para decisões informadas. Apesar de considerarem o seu conhecimento inicial reduzido, os jovens demonstraram grande interesse em aprofundar o tema.
O estudo refere que é essencial educar adolescentes de ambos os sexos sobre a sua fertilidade e os fatores que a afetam, nomeadamente os relacionados com o estilo de vida: consumo de álcool e de tabaco, drogas, exercício físico, obesidade ou baixo peso e infeções sexualmente transmissíveis (ISTs).
“Incluir este tema no currículo das escolas não é apenas uma medida educativa: pode ser também uma ferramenta decisiva para os jovens gerirem a sua saúde reprodutiva com autonomia de decisão e, como tal, poderem ter os filhos que desejam”, afirma Ana Galhardo. A investigadora do Instituto Superior Miguel Torga alerta para o declínio recorde de 5,5% nos nascimentos na União Europeia em 2023, o nível mais baixo da última década, segundo o Eurostat. Para ela, “educar os jovens sobre saúde reprodutiva e fertilidade é uma das medidas essenciais para reverter este cenário e garantir uma recuperação demográfica sustentável na Europa”.
Uma das inovações do projeto é o desenvolvimento do jogo educativo FActs!, criado pela Fertility Europe com o apoio da European Society for Human Reproduction and Embryology. Este jogo combina entretenimento com aprendizagem ativa, ajudando os jovens a aprofundar os seus conhecimentos sobre fertilidade de forma envolvente e interativa.
Os adolescentes participantes destacaram a eficácia de abordagens digitais, como jogos educativos e plataformas online, para tornar o tema mais apelativo. Em Portugal, os jovens consideraram o FActs! uma “excelente iniciativa de aprendizagem”, valorizando aspetos como a competitividade, o design gráfico, o elemento lúdico e a disponibilização de um website com informações adicionais.
“A inclusão de temas de saúde reprodutiva no ensino formal não só contribui para a prevenção de problemas como a infertilidade, mas também reduz custos para os sistemas de saúde e apoia as famílias na concretização dos seus objetivos reprodutivos”, explica Ana Galhardo. Os resultados do estudo reforçam a necessidade de adaptar os conteúdos educativos às especificidades culturais e sociais de cada país participante. “Implementar programas escolares que aumentem os conhecimentos acerca da saúde reprodutiva é uma das medidas essenciais para preparar a Europa para os desafios demográficos presentes e futuros”, conclui a investigadora do ISMT.
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