“Escrever bem e falar bem são pura vaidade quando não se vive bem”, segundo a escritora e teóloga sueca, Brígida Birgersdotter (1303-1373). Há milhões de anos é assim, os pássaros voam e cantam, e viver bem pareceu sempre uma promessa a cumprir.
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Ando com os olhos bem abertos para ganhar o tempo que dizem que estou a perder. É o terceiro dia de janeiro. É outra época em vinte e quatro horas. Lembro-me que na infância eu queria crescer rapidamente, mas, não imaginava que a vida adulta tiraria de mim a possibilidade de continuar a brincar.
Agora que chegou o futuro, sinto-me mais prevenida que otimista. Abandono qualquer intriga por um dia de chuva no campo. E à medida que me vou aproximando da paz, lembro-me de visualizar uma montanha onde o sol chega primeiro. Viver de forma simples pareceu-me sempre uma ideia audaciosa.
A benevolência dos heróis é a mesma com a que eu planto flores. Diariamente alguma coisa tenta arrefecer o meu sangue, mas, falha. A propósito das minhas aspirações, eu sei que será impossível viver tudo o que um dia sonhei, porque, ao passar dos anos, o meu otimismo reluzente foi cedendo o seu lugar a uma prevenção virtuosa.
É impressionante perceber agora as certezas que eu tinha e que me cegavam a ponto de sentir arder a minha consciência. Tudo o que era possível eu fiz, mesmo contrariando alguma hierarquia, e após aprender os pontos cardeais, quis viver com uma mochila às costas e tentar compreender a força que não me deixa desistir.
A visão embaciada pela luz insolente na fresta da janela, lembra-me o propósito. Mas se eu morrer de repente, sinto que não saberei justificar-me. É possível que no fim a sensação de vazio queira ser tudo o que um dia deixei de amar.
Com os olhos compassivos diante do óbvio, será preciso pagar as promessas de quem morreu na guerra, antes que o futuro termine.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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