O nosso país tem uma longa história. É possível enumerar diversos feitos incríveis, que deram nome e glória ao país e que nos enriqueceram, no entanto, há um que se destaca por ser a primeira moeda de ouro cunhada em Portugal.
O morabitino é uma moeda que deve ser conhecida por todos.Esta palavra estranha é o nome da primeira moeda de ouro cunhada em Portugal. Existem referências em diversos documentos da época que comprovam que o Morabitino de D. Sancho I foi a primeira moeda de ouro portuguesa, o que aconteceu em pleno século XII.
Com este nome foram designadas várias moedas de ouro cunhadas no nosso país, entre os reinados de D. Sancho I (1185-1211) e de D. Afonso II (1223-1248).
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O nome desta moeda, Morabitino, não é original. Os cristãos distinguiam dessa forma o dinar emitido pelos Almorávidas, a seita berbere “murabit” que governou a região atlântica norte-africana entre os anos de 1056 e 1147.
A sua força estava instalada do sul do Saara à entrada do Mediterrâneo, estendendo-se ao Ândalus pouco tempo após a vitória conseguida contra o rei Afonso VI de Leão e Castela, em Zalaca.
A moeda portuguesa Morabitino teve assim uma inspiração islâmica. Esta designação deriva do termo árabe al-murābiṭūn, nome desta dinastia que governou o norte de África e a Península Ibérica nos séculos XI e XII.
O ouro das emissões almorávidas era quase puro (variava entre 90% e 95% de fino). Este ouro era proveniente da região do Ghana ou do sul do Sudão e era obtido em grandes quantidades.
Eram os berberes que assumiam o controlo destas rotas. Mais tarde, o ouro era espalhado num estilo novo por uma Europa e Próximo Oriente que se revelavam ávidos de metais preciosos e que se encontravam quase desaparecidos desde os finais do domínio romano.
Foi neste contexto que o rei português decidiu também bater a moeda de ouro. Sancho I realizou essa proeza de fazer do Morabitino a primeira moeda de ouro cunhada em Portugal.
Quando o monarca o fez, a dinastia Almorávida já tinha passado à história há quatro décadas e já tinha sido substituída pelas almóadas. No entanto, o característico dinar tinha uma fama distinta.
Esta moeda apresentava um peso situado entre as 4,15 e 4,20 gramas e continuava a circular com os nomes de “morabitino maior” (codicilo de 1179 ao testamento de D. Afonso Henriques) e, posteriormente, “morabitino velho” (1253, Lei de Almotaçaria).
Vários exemplares de moedas extraordinárias encontram-se presentes no acervo do Museu da Casa da Moeda. O morabitino de D. Sancho I é uma dessas moedas singulares.
A primeira moeda de ouro cunhada em Portugal revela-se uma peça única que apresenta duas qualidades formidáveis que a valorizam ainda mais. Além da sua história, o Morabitino tem beleza e raridade. Por isso, esta moeda apresenta um valor excecional.
Esta moeda de ouro portuguesa foi cunhada por D. Sancho I num contexto em que Portugal e a Cristandade Ibérica se encontravam a viver um momento delicado. Vivia-se num clima de tensão com o Islão.
A primeira moeda de ouro cunhada em Portugal apresenta a ligação entre o brasão de armas do reino e o rei. O Morabitino apresenta-nos um rei que é guerreiro. Um homem que assume a liderança contra os exércitos infiéis e é corajoso para partir para a frente de combate, sem hesitar.
O brasão presente nesta moeda de ouro é formado pelas 5 quinas, que se apresentam colocadas em cruz e carregadas com besantes em aspa, cantonadas por 4 estrelas de 7 pontas.
Nesta moeda singular e histórica, o rei português surge como o protótipo iconográfico do guerreiro reconquistador, revelando dois atributos na cabeça que merecem destaque: a coroa e a barba do rei.
Os elementos colocados não são inocentes e visam reforçar a soberania e a virilidade do monarca português. D. Sancho I é apresentado na moeda de ouro com um protagonismo singular. O rei surge montado no seu cavalo. Ele empunha o ceptro rematado pela cruz numa mão e a longa espada na outra mão.
Existe ainda um letreiro na primeira moeda de ouro cunhada em Portugal que tem uma função. No Morabitino de D. Sancho I, há a clara intenção de exaltar a figura do monarca. O rei português é apresentado nesta moeda de ouro como um homem especialmente abençoado por Deus.
É possível ler a seguinte inscrição nas faces do Morabitino. “+ Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Ámen. + Sancho, rei de Portugal*”. Desta forma, é invocado o mistério da Santíssima Trindade como estratégia para recordar que D. Sancho I apenas é rei de Portugal por via da graça divina, que foi concedida ao monarca pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Nesta moeda de ouro portuguesa, D. Sancho I aparece devidamente identificado com o nome próprio e com o título régio. No Morabitino, também se podem verificar estes elementos na face da moeda onde surge ainda a representação equestre.
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