Opinião
Pungência tecnológica
Temos uns artistas, modernos e embasbacados, com a tecnologia. Uma pungência discursiva, plural, que insistem em garantir-nos que servirá para o fomento, a visibilidade e a sustentabilidade.
Uma estética, afastada dos circuitos artísticos, que tem coisas bons e desperdícios.
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Entre as coisas boas está a nova fábrica em Coimbra que irá montar três satélites portugueses.
Como de costume, outras nacionalidades vão aos fundos europeus para observar o país e o planeta. Dizem ainda que irão vigiar a costa marítima e medir o impacto de desastres naturais, como os incêndios florestais.
Nada a opor, só o lamento triste de um país que não aproveita os seus. Monitorizar mar e florestas é sempre bom.
Adiante e cheguemos ao disparate.
Todos conhecem o episódio da conversa entre o Gemini, a ferramenta de inteligência artificial da Google, e um estudante nos Estados Unidos em que o chatbot aconselhou o jovem a “morrer”.
Isto num contexto de questões sobre desafios e soluções para o envelhecimento dos adultos.
“És uma perda de tempo e recursos”, gemeu a inteligência, antes de pedir, por favor, ao utilizador para fenecer.
Ora fenecer é o ideal para esse mono que querem criar, de modelo de inteligência artificial em Português.
Parida na moderna, e cara, Web Summit, o modelo de linguagem de inteligência artificial português vai chamar-se Amália e a sua versão final será lançada em 2026.
O capital, fica lá em Lisboa e nós vamos assistir, na frisa, a torrefação de 78 milhões de euros do dinheiro europeu.
Não sabem o que fazer ao dinheiro, nem à inteligência. É que antes da Amália, já houve o Gervásio, Albertina e Serafim, até o Glória e os das grandes marcas.
Já inteligência para nos resolver os problemas, essa é cera gasta em fraco defunto, de tão minguada.
Vejam-se, entre tantos exemplos, as crianças que nascem em ambulâncias, as conversas entre a Liga dos Bombeiros e o Instituto Nacional de Emergência Médica.
Entrementes repetem o que já temos, 100 equipas garantidas pelas corporações de bombeiros.
Um país de quintas, mas para resolver esta questão, com tecnologia e referenciação, triagem e comunicação, não torramos nós o dinheiro.
Enfim, um país feito para parir aeroportos de Beja, que não nos falta mais nada que cornetas e megalomania.
Muita pungência e pouco pragmatismo.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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