Opinião

Cidadã Comum

OPINIÃO | Angel Machado | 13 horas atrás em 15-11-2024

Folgo saber que em algum lugar no mundo a mobilidade urbana funciona. Em Coimbra, gosto de pensar que um dia, também, funcionará. A vantagem de ser uma cidadã comum é de poder fazer diariamente o mesmo itinerário de autocarro e perceber como a vida é lenta e que as horas de sono não foram suficientes. Mesmo quando faz sol, essa vida poderia ser menos torturante.

Cabe-me reclamar ou fingir que está tudo bem. Essa compreensão alimenta o meu pensamento insatisfeito: levamos a vida sem grandes insurgências. Comum, entre os mortais, é a consciência de não ter direito ao progresso, como se fossemos do segundo escalão, sem necessidades ou garantias de uma vida satisfatória.

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Falar com estranhos é um hábito. Tenho ouvido histórias que me comovem e, também, inquietam. Jovens pais, avós e os seus descendentes, como se todos fossem filhos do mundo, daquele mundo que cabe numa caixa de fósforo. Em dias alternados em paragens diferentes, estou eu com o propósito de aliviar o peso do mundo que as pessoas sentem nas costas.

O trânsito das grandes cidades pode ser comparado a uma orquestra, mas é difícil saber de quem depende o sustento dos sonhos. Viver por viver não me parece honesto. Amanhã tenho o desafio de começar outra vez, infelizmente, com poucas perspetivas. Eu pensava estar a viver o futuro, mas dizem que o futuro é em 2030, quando um dia já o foi no ano 2000.

A perplexidade com que os olhos veem o caos é como as dores que suportamos, porque assumimos as perdas e os danos de uma vida sem sentido, às vezes, fora daquele itinerário. Vejo os outros continuarem a fazer a mesma aposta diariamente: amanhã será outro dia, ou continuaremos a tentar, até que não acordemos mais para assistirmos o privilégio da mudança rumo ao progresso.

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