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Avessa “a arbitrariedades”. “Como povo, somos muito mornos”, adverte professora universitária
Imagem: Sofia Pereira
Com “a mania das leis”, uma professora da Universidade de Coimbra é autora de cinco processos contra a instituição em defesa de concursos mais transparentes.
Incapaz de “vender a alma por um prato de lentilhas”, Maria Helena Henriques, 64 anos de idade, lamenta que, como povo, sejamos “muito mornos”.
A “aplicação do Direito é fundamental para não se viver na selvajaria”, advoga a docente, em cujo ponto de vista a UC tem tirado partido da morosidade da justiça.
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Por coerência, a geóloga – professora associada, com agregação, do Departamento de Ciências da Terra – orgulha-se de o último dos processos que ganhou consistir no triunfo de “uma questão de bom senso”.
Segundo a agência noticiosa Lusa, tudo começou, em 2010, quando Maria Helena perdeu um concurso para professor(a) associado(a) contra um ex-aluno dela.
Para a docente, o recurso não assentou em perder contra um antigo discípulo. “Isso era irrelevante, pois ele poderia ser absolutamente brilhante”, assinala.
Um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, a cujo teor a Lusa teve acesso, diz que os concursos não podem estabelecer o peso dos subcritérios de avaliação após a remessa das candidaturas, tendo em conta a possibilidade de se adaptar, posteriormente, esse peso em função do perfil curricular dos candidatos.
“O sentido de justiça e o de defesa das liberdades foram-me incutidos desde a minha infância”, indicou Maria Helena a Notícias de Coimbra.
Neste contexto, a professora universitária indica ter estado com o pai, a 25 de Abril de 1974, no Terreiro do Paço, contando 14 anos de idade por ocasião da ‘revolução dos cravos’.
Dos contributos da mãe para a formação da sua personalidade, destaca a circunstância de a progenitora ter trabalhado numa multinacional de origem sueca e, por isso, Maria Helena beneficiou da frequência de um infantário que, na altura, não teria paralelo em Portugal.
Primeira mulher doutorada em Geologia pela UC, em 1992, Helena Henriques sentiu necessidade de procurar no estrangeiro condições para se especializar.
“Conheci comunidades científicas da minha área de especialização, a paleontologia, dotadas de mentes abertas”, acentua.
Numa determinada fase, “sabendo que não estava” ao seu alcance a desejável progressão na carreira, a docente procurou “factores de motivação” e passou a frequentar a licenciatura em jornalismo da Faculdade de Letras da UC.
“Ao longo de quatro anos, fui aluna da FLUC durante a manhã e professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia durante a tarde”, recorda.
Foi um episódio com Mário Soares, então Presidente da República, no Cabo Mondego (Figueira da Foz), que fez despertar em Helena Henriques interesse pelo jornalismo.
Sentiu “curiosidade de saber como determinado episódio pode abrir telejornais”, sintetiza. Acresce que Maria Helena também sente ter-se tornado melhor professora.
“Não sou uma docente convencional”, adverte, distanciando-se do “endeusamento em que mergulham muitos professores universitários”.
Honrada por “poder transformar patinhos feios em cisnes”, Maria Helena admite viver num “gratificante desassossego” e faz a apologia da “liberdade de pensamento”.
Neste contexto, dedicou-se, em co-autoria, à publicação de livros para a infância e juventude, sendo que os direitos autorais revertem para edições em braille (sistema universal de leitura e escrita para pessoas com deficiência visual).
Um dos livros, “Contos da Dona Terra”, foi redigido por Helena Henriques, Maria José Moreno e Galopim de Carvalho.
Trata-se de obras que, através da ficção, demonstram a relevância das Ciências da Terra para o desenvolvimento sustentável.
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