Opinião

O tinto inquietou-me

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 32 minutos atrás em 20-10-2024

Esta semana a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, promove uma prova de degustação de diversas variedades regionais de maçã, para assinalar o Dia Internacional da Maçã.

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O Turismo do Centro anda “com a lua” e as comissões vitivinícolas, mais os queijos, andam sempre em digressão.

Movidos a fundos comunitários, dinheiro europeu, não cuidamos de aferir o retorno desse investimento, como exigia o meu amigo Norberto Pires, e a realidade é miserável.

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Vai um tipo a Aveiro receber um prémio, quer celebrar com os amigos, a aplicação debita o local perfeito e sai um tinto fora da região e uns petiscos que são apenas umas fritas, nem sequer das honestas, antes umas chips congeladas. Se me virar para a minha cidade, ainda ontem, havia tudo menos o regional.

E se entrarmos em bar e perguntarmos se tem vinho a copo, somos olhados de soslaio como um canastrão. E quando o há, tantas vezes um espanhol enfiado numa embalagem portuguesa.

Não percebo este país, que desdenha o regional, o local, apesar de o promover e financiar com olhos e dentes.

Resolvo o meu problema, mudo o estribilho, mas quem nos visita, perguntará onde estamos a perder a nossa autenticidade.

Quadrilheiros e patos bravos abundam na selva turística, onde preferem ver o todo, esquecendo a soma das partes. Precisamente a que deveria ficar na terra, acondicionar a carteira do lavrador, preservar o genuíno, louvar o único.

Continuamos nestas lamúrias e falta de visão, de quem financia e de quem promovo, tornando fraco um negócio que tem tudo para ser forte.

O cinismo num país der esquemas, acho que nunca saímos disto, vive do circo mediático, o fundamental é ser artista, ter eventos que não escorrem nem nome nem fazenda.

Neste situacionismo, esquecemos o essencial. Verteram-se nove mil credenciais do Portal das Finanças, uma amostra de algo maior, poderosa exfiltração de dados, – dados reais em que ninguém assume a culpa.

Entretidos com a semana dos quatro dias, esquecidos da decência e do orgulho pátrio, acabamos por ser uma espécie de interrompedor!

Coisa que faz o meu gaiato, numa palavra que se quer irrompendo, rompendo, rasgando o entrecosto, que nem fogo abreviando floresta. Que o arroz a tinha toda. O alho, mais a cebola, a linguiça, o raçudo, a couve, o chouriça, a cenoura mai-lo carolino e o amor com que nos dedicamos a apurar o romance que o cozinheiro aquilata ao prato.

E nesta vida comezinha, que dispensa faca para comer entrecôte, nem nos apercebemos da ausência que só provamos, abastardando a tarde, quando chega o velho e a amarelinha. De tudo isso sentiremos a falta nos outonos que nos inquietam, mas que eu prefiro sufragar com maças, as que me encheram o alforge e o regaço que é disso, do que adiamos, que mais sentiremos a falta. Interrompesse-nos a andança, por mor de um gaiato que grita esperança. É dessa que reclamo lembradora, e assadura, logo agora que as Serranias são já ali à frente e que há porco no chambaril e castanhas na panela. Que viver numa pátria não há-de ser por modo, mas por advérbio, que mais do resto é vianda que não alimenta bácoros.  

Saibamos nós perceber a urgência da poda, a correria da sementeira, e entender a bussola, que mais que os pontos cardeais, nos aponta os colaterais, esses os que precisamos seguir para que tudo isto, todo este imenso dobre de finados faça sentido e nós, eu e o cachopo mai-la moça, mais que pertença exigimos conservança.

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