O jurista e gestor Luís Parreirão advertiu, esta quarta-feira, em Coimbra, que “a incerteza não é boa companhia para a longevidade” das empresas familiares.
Para o administrador da sociedade Mota Gestão e Participações, “a actual financeirização do mundo, a par da incerteza, pode gerar tentações demasiado fortes”.
“As alterações que, hoje em dia, o mundo vai conhecendo”, na esteira do que se vai designando como iliberalismo, “não são no sentido do crescimento das empresas familiares”, preveniu o orador ao usar da palavra no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra.
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A Coimbra Business School foi palco da constituição de um Observatório de Empresas Familiares, tendo a criação sido acompanhada de uma conferência a cargo do orador e da docente Ana Roque (“Das empresas familiares às famílias empresárias – novas respostas para novos desafios”).
Para o ex-governante, empresa familiar pressupõe liberdade e mercado a funcionar, motivos por que requer mobilização dos recursos da família, iniciativa individual e criativa.
Segundo Luís Parreirão, “por razões históricas conhecidas, em Portugal há (…) reserva ideológica quando nos referimos às empresas familiares”.
Porém, prosseguiu, “num país com escassez de capital, como a que Portugal possui, é fundamental juntar essa pouca faculdade de agregar capital com o mérito e com a capacidade de iniciativa”.
“Não será certamente por acaso”, alegou o orador, “que democracias consolidadas, como a italiana ou a espanhola, produziram legislação específica para assegurar a manutenção das unidades produtivas de natureza familiar”.
Trata-se de “um desafio a que o Observatório acabado de criar talvez possa ajudar a dar resposta”, assinalou o ex-governante.
O orador preconizou que aos conceitos de empresas familiares e de famílias empresárias deve suceder o conceito de famílias investidoras.
Sem embargo de possuir algumas dúvidas, o jurista e gestor entende que “não há empresa, nem investimento, sem família”. “Dito de outra forma, poderá existir, mas [isso] já não é tratado neste âmbito nem nesta disciplina”, precisou.
Neste contexto, Luís Parreirão indicou que a criação de family offices vem “dar um passo de gigante na caminhada das famílias empresárias para famílias investidoras”. Ainda assim, o orador advertiu “não se poder reduzir a actividade e a organização de uma família investidora a um family office”.
“Nas famílias investidoras, como em qualquer família, há uma dimensão ontológica a dar sentido à pluridimensionalidade da vida”, assinalou.
Ao parafrasear o catedrático de Direito Guilherme de Oliveira, Luís Parreirão indicou que “cada família investidora é a sua própria legisladora”. O jurista e gestor deixou, porém, uma advertência dizendo que “talvez devamos começar no domínio da ‘soft law’, ainda que isso em nada diminua a complexidade da tarefa e muito menos a sua importância”.
Tendo presente que “não há famílias investidoras à força”, “terá de ser na concretização do princípio da autonomia da vontade que serão dados os próximos passos”, concluiu, vincando, por outro lado, que “a família (continuando em mudança) alterou-se muito mais do que a empresa”.
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