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João Paulo II continua a ser o“Papa de Fátima”
Quase 20 anos após a sua morte e mais de 24 após a sua última passagem pelo Santuário de Fátima, são muitos os peregrinos que não esquecem o Papa João Paulo II, o “Papa de Fátima”, como muitos o apelidam.
Hoje, a poucas horas do início das cerimónias da peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de outubro ao santuário da Cova da Iria, são muitos os fiéis que param junto à estátua do Papa polaco, perto da entrada da basílica da Santíssima Trindade.
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Orações, deposição de flores, toques na escultura ou apenas tirar uma ‘selfie’ são motivos que levam os peregrinos a parar junto da estátua que mostra um papa a olhar para o vasto recinto do santuário onde esteve por três vezes.
Maria da Conceição, de 66 anos, oriunda de Fernão Ferro, na margem sul do Tejo, não esconde a emoção depois de ter estado, com duas amigas, alguns minutos a rezar junto da estátua.
“Sempre gostei muito do Papa João Paulo II. Era um santo”, diz à agência Lusa, adiantando que teve um filho a quem deu o nome de João Paulo devido à sua devoção a Karol Wojtyła, e que “também era um santo, era uma luz divina”.
O filho morreu ainda jovem, há 13 anos, eletrocutado quando trabalhava com uma betoneira, “uma dor inultrapassável” para Maria da Conceição que não vê a sua fé abalada e se desloca a Fátima sempre que pode.
“Devia haver mais papas e padres como João Paulo II, santos”, deseja, lamentando, de imediato, que haja membros do clero que “não dignificam a Igreja”, numa referência aos casos de abuso sexual de menores.
Segundo esta católica, “a maioria dos padres, temos de acreditar, que são dignos, mas os que abusam de uma criança deviam, desde logo, ser banidos da Igreja”.
A poucos metros, sentados num dos muretes que ladeiam o recinto do santuário, Lucília Faria, de 67 anos, e José Carlos Santos, de 71, vindos de Torres Vedras, lamentam a “transformação” que detetam nos peregrinos de agora face aos peregrinos de há décadas.
“As pessoas eram mais peregrinas que agora, tinham mais respeito pelo local, agora há muitas faltas de respeito, barulho e outras coisas que se veem”, diz Lucília, que não esconde que, apesar de tudo, continuam a sentir-se “bem no recinto”, que visitam várias vezes por ano.
Quem também não perde a oportunidade de se deslocar a Fátima é Manuel Silva, de 72 anos, de Amares, que não esquece a sua experiência de “quase morte” ocorrida em 1996 em França, quando chegou a estar na morgue depois de uma operação cirúrgica à coluna.
“Fui dado como morto, estive na morgue, mas depois acordei, uns dias depois, num quarto do hospital. A partir desse momento, a minha devoção aumentou. E agora, venho cá várias vezes por ano. Às vezes chego a ficar aqui um mês”, diz Manuel Silva à agência Lusa, momentos antes de entrar na basílica da Santíssima Trindade.
No recinto, e apesar do tempo instável, são já muitos os peregrinos. A Capelinha das Aparições, o tocheiro – com fila de dezenas de metros de fiéis que ali querem depositar as suas velas – e a basílica de Nossa Senhora do Rosário, onde estão sepultados os santos Francisco e Jacinta e a sua prima Lúcia, são locais de grande afluência nesta manhã.
No recinto, entretanto, já há quem esteja instalado no local onde, a partir das 21:30, assistirão às cerimónias.
É o caso de Maria Fernanda, de 60 anos, que veio esta madrugada de Marco de Canaveses.
Não escondendo que está ali com o marido a guardar lugar, para ficar mesmo junto ao corredor onde passará a procissão com a imagem de Nossa Senhora, Maria Fernanda não deixa de apontar alguns aspetos que considera negativos na Cova da Iria, como o facto de “ser uma exploração o que se passa nos hotéis nestes dias”.
“Ao meu cunhado pediram 500 euros por uma noite num quarto de hotel”, desabafa, apontando também o dedo à “confusão nas casas de banho” no santuário.
Para Maria Fernanda, que com o marido diz acompanhar diariamente o terço a partir da Capelinha das Aparições, através de uma estação televisiva, a solução para o problema das casas de banho era simples: “com tanto dinheiro que entra aqui, era fazerem mais”.
A peregrinação de hoje e domingo é a última grande concentração do ano no santuário, com as cerimónias a serem presididas pelo arcebispo de Manaus, Leonardo Steiner.
As cerimónias começam às 21:30 de hoje, com recitação do terço na Capelinha das Aparições, seguida de procissão das velas e celebração da palavra. A partir da meia-noite decorrerá uma vigília de oração, com os peregrinos a serem chamados às 09:30 de domingo, para o terço e, a partir das 10:00, a procissão para o altar, missa, bênção dos doentes e procissão do adeus.
Segundo informações do Santuário de Fátima, 173 grupos organizados de peregrinos estão inscritos para participar nas celebrações deste fim de semana, provenientes de mais de 30 países.
Numa mensagem divulgada na página do Santuário de Fátima, o reitor, padre Carlos Cabecinhas, convocou os peregrinos, num momento marcado por conflitos internacionais, que exige orações pela paz, pedindo a “ajuda e proteção de Nossa Senhora”.
“Reunimo-nos para pedir a ajuda e proteção de Nossa Senhora, concretamente nesta situação em que vivemos, uma situação que exige que rezemos pela paz, uma situação que nos leva a rezar pela Igreja em sínodo, uma situação que nos leva a pôr nas mãos de Maria tudo aquilo que nos ocupa e preocupa”, diz o sacerdote na mensagem em que apela à participação na peregrinação que hoje começa e que evoca os 107 anos da sexta aparição na Cova da Iria.
Esta aparição ficou marcada pelo chamado “milagre do Sol”.
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