Opinião
Da bandeira enquanto pano da louça à complacência que o cansaço instiga
De bandeira à cintura, deixou claro que trata o símbolo que tanto diz amar com o mesmo respeito que se trata um pano da louça. Berrou um número insuportável de vezes o nome do país que, garante a pés juntos, Deus lhe deu a missão de transformar, ao jeito de uma Alexandra Solnado com esteroides. E mentiu, mentiu muito. Como mente sempre.
Foi só mais um episódio de um tipo de comportamento que, há não muito tempo, era reprovado por quase todos. Aos poucos, esse olhar crítico foi-se perdendo e sendo substituído pela complacência. E o mal deixou de o ser, para ser normal.
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Foi Hanna Arendt quem postulou a ideia da banalidade do mal, segundo a qual ele pode ser praticado por pessoas comuns, que não são necessariamente monstruosas, mas agem de maneira indiferente ou sem refletir profundamente sobre as consequências das suas ações. Apontou algumas razões para essa indiferença, como a despersonalização ou alienação dos indivíduos, mas reconheço – com grandes doses de vergonha e uma enorme vontade de pedir desculpa – que vejo cada vez mais em mim próprio uma outra razão, potencialmente mais forte: o cansaço.
Porque cansa repetir uma e outra vez argumentos que, na verdade, nem são mais do que acrescentos (relativamente laterais) a algo que me parece bastante simples e não que devia carecer de explicação: Devemos ser pessoas decentes. Cansa ouvir os mesmos factos falsos, os mesmos preconceitos, a mesma raiva pelo outro.
E porque o cansaço é cada vez maior, abdico desta vez, nesta crónica, de me repetir. Mas não de lembrar alguns factos, na esperança – provavelmente ingénua – de que eles possam levar a uma reflexão. E a uma maior decência.
– Não existe nenhum problema de imigração descontrolada ou imigrantes a mais em Portugal. Um estudo recente da Universidade do Porto indica que um crescimento sustentado da economia nacional só é possível com o aumento da emigração.
– Os imigrantes não roubam os empregos dos portugueses. Não deixa de me surpreender que este argumento colha num país cujos filhos tantas vezes foram dele vítimas noutras terras… Mas a verdade é que na agricultura, na construção civil ou no turismo, setores essenciais para Portugal, os imigrantes trabalham em empregos que os portugueses não querem e por ordenados que os portugueses nunca aceitariam.
– Os imigrantes não sobrecarregam o Estado. Na verdade, é bem o contrário: as suas contribuições são sete vezes superiores aos encargos que representam pelo que, na verdade, eles sustentam o Estado.
– A criminalidade não aumenta por haver mais imigrantes. Os dados divulgados pela Direcção-Geral da Política da Justiça permitem até constatar duas coisas: os municípios com maior número absoluto de estrangeiros têm visto a criminalidade decrescer; e o rácio de crimes por total de residentes é mais baixo em municípios onde a população estrangeira tem mais impacto.
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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