Opinião
A Vergonha Alheia
Nós pensamos muitas vezes que estamos certos quando julgamos alguém. A disponibilidade é um sintoma de quem gosta de nadar a favor da corrente, e o julgamento, tão natural nesse tempo de conexões rápidas, é a oportunidade que os humanos têm, fora do tribunal, de manifestarem as suas opiniões e os seus preconceitos. Fazem-no, muitas vezes, com letras maiúsculas, e nem sempre com um bom português.
As pessoas sentem-se encorajadas pelo vazio das suas vidas. Atualmente, estamos todos aptos a declarar guerra, basta que alguém interfira na norma social e cultural para que a vida perca o seu sentido nas redes sociais. Se não fossem as ideias bizarras que temos de nós mesmos no escuro, talvez, fôssemos mais cautelosos.
A realidade em que me insiro tenta obstruir o meu senso de dignidade. Eu gosto de pensar que fazemos parte de uma grande comédia “trash”. Assim, mantenho a saúde sem sobressaltos, porque a loucura espreita-me. O que vem a seguir é esse estereótipo de podermos sentar no banco politicamente correto.
Para onde caminha a humanidade? Para a extinção? Sócrates dizia que “o caminho mais grandioso para viver com honra neste mundo é ser a pessoa que fingimos ser”.
Esse engajamento tornaria o mundo melhor, as pessoas sentiriam que a sua dor dói como nos outros. Este princípio do reconhecimento do outro permitia descobrirmo-nos naquilo que somos.
A demagogia e a falsa moral a qualquer custo apavoram-me. Os erros que cometemos repetidamente sem autocrítica contaminam a nossa dignidade. A vergonha alheia, também, é a nossa. Tudo o que conseguimos ser ao longo da nossa vida define o que somos ou não. A dignidade não está a venda, por isso, cuide bem da sua vida.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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