Fernando Duarte vive em Joanesburgo, na África do Sul. Há quem diga que é o homem mais rico daquele país e tudo começou com um restaurante que nem talheres tinha. Foi assim que começou a viagem deste emigrante português.
Nando´s é uma imensa cadeia de restaurantes. Tem sucursais em 26 países, nos cinco continentes, da Austrália a Israel, da Malásia ao Canadá, de Londres a Singapura, do tradicional frango ‘portuguese style’, ao ‘halal‘ e ao ‘kosher‘. Começou por ser uma esplanada com frango com piri-piri que nem talheres tinha. Um multimilionário que não perdeu a simplicidade e que não esquece as origens.
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Fernando Duarte tem dinheiro para comprar o que quiser: tem dois helicópteros, mas é na rua que ele se sente bem. Foi o cheiro feiticeiro do frango no churrasco que o tornou num dos homens mais abastados de África.
Já pensou na hipótese de trazer o Nando’s para Portugal. “Uma vez isso passou-me pela cabeça, mas desisti logo. Não faria sentido. O frango do Nando’s, que é tão apreciado por todo o mundo, é uma receita portuguesa”. Ou, aliás, “afro-portuguesa, já que o ingrediente principal é africano. Não ia resultar. Há demasiada oferta em Portugal”, explica ao Contacto.
Na rua passa despercebido. Recorde-se que Joanesburgo é uma das cidades mais perigosas do mundo. Anda entre a multidão de t-shirt e calções, sem relógio ou demais acessórios.
Nasceu na Maia, no Porto e é adepto ferrenho do Futebol Clube do Porto, do qual é sócio. No seu restaurante, há símbolos do FCP por todo o lado. “Nasci na Maia. Toda a minha família é do norte e ainda lá está. Apesar de estar há tantos anos na África do Sul senti-me sempre português do coração”.
Estudou e viveu em Moçambique antes da independência, para não perder a ligação à língua e à cultura portuguesa. “O meu pai veio para Joanesburgo com uma mão à frente e outra atrás, como se costuma dizer. Tinha eu quatro anos”, conta.
A vida roubou-lhe o tempo que tinha. Quando voltou definitivamente para Joanesburgo, ainda no pleno do regime de Apartheid, as coisas não estavam fáceis. “Nunca foi fácil ser português na África do Sul. Ainda hoje. Se calhar, sobretudo hoje”. “Tinha de fazer-me à vida e encontrar sustento o quanto antes”. Não havia tempo para projetos, apenas para os classificados do dia.
E aqui começa a história do Nando’s. Um amigo de um amigo de um amigo do seu pai, falou num posto numa empresa electrónica. Não foi por isso, mas pelo fruto do seu trabalho que aos 24 assumiu a chefia da parte técnica dessa empresa. Pelos vistos, alguém reconheceu nele e que nem ele próprio sabia que tinha nessa altura: capacidades de liderança.
Foi aí que conheceu Robert Brozin, mas as coisas na empresa começaram a correr mal. Nesse momento “equacionei muito a sério regressar a Portugal. Tinha prós e contras. Mas era um risco muito grande”. Até para lhe falar disto, convidou o seu amigo Robert Brozin para almoçar, como tantas vezes faziam, quando trabalhavam na mesma empresa. A dupla aproveitava para explorar os restaurantes portugueses das redondezas, para discutir convenientemente as particularidades da suas crises.
Desta feita, foram a Rosettenville, um subúrbio em Joanesburgo, onde existe uma comunidade portuguesa. “Apetecia-nos… frango”, ironiza.
Sendo assim, a hipótese óbvia era o Chickenland que se encontrava para aluguer. Os donos estavam interessados em trespassar o negócio. Fernando e Robert não deram grande importância.
Naquele momento, nada mais importava do que a sua dose de frango assado. Só mais tarde, quando chegaram aos digestivos, se fez luz. “Então e… E porque não?!”, disse ao Robert. “Isto bem arranjado e bem organizado, pode resultar”, recorda Fernando.
A ideia, porém, nunca foi a de alugar, mas de comprar. E para isso foi ainda necessário convencer o dono da Chickenland, que ficou de pensar, enquanto Fernando e Robert ficaram de fazer as suas contas.
Em 1987, o Chickenland mudou finalmente de donos, de nome, de estilo, e de política de gestão. “Fizémos uma autêntica revolução naquele espaço. Começamos a criar ali a nossa marca, que queríamos sólida”. Assim nasceu o Nando’s de Rosettenville, que hoje é uma espécie de restaurante-museu.
A ideia foi esta: “Criar um produto excelente, diferente daquilo que se via na África do Sul e na maior parte do mundo, com capacidade para manter o nível de qualidade, sem quebras”.
Foi um passo de cada vez. “O nosso primeiro objetivo não foi o de conquistar as pessoas de Rosettenville, pois essas já conheciam a casa. O objetivo era trazer pessoas de toda a Joanesburgo para Rosettenville, para experimentar o nosso frango. A qualidade faria o resto. Seria o nosso marketing de boca-a-boca. Na alturas, as coisas funcionavam assim”.
Com maior ou menor dificuldade, o segundo Nando’s surgiu. E a marca consolidou, atravessando o Apartheid até ao fim.
“A época que antecedeu o fim do Apartheid, foi uma altura muito difícil e muito conturbada. Mas nós vimos nessa mudança, que era imprescindível, uma oportunidade”. O Nando’s era à prova de regimes. E, conforme ficou provado, o seu produto era transversal. Fernando Duarte e Robert Brozin foram abrindo restaurantes atrás de outros.
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