Exposições
Arquivo mostra Canção de Coimbra com sangue novo e “menos cristalizada”
O festival “Correntes”, em Coimbra, desafiou Tiago Pereira a registar a Canção de Coimbra que existe e o responsável de A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP) encontrou “sangue novo” e um género que está “tudo menos cristalizado”.
O projeto, intitulado “Arquivo Sonoro do Fado e da Canção de Coimbra”, foi apresentado na terça-feira 1 de outubro, no âmbito do festival “Correntes de Um Só Rio”, dinamizado pelo Convento São Francisco, e será possível visitar até sábado na ‘project room’ daquele espaço, uma instalação audiovisual que compila os registos gravados.
O arquivo, cujos registos estão também disponíveis no site de MPAGDP, conta já com 67 vídeos, com “novos e velhos”, ouvindo “os que arriscam, os que fazem o clássico, os que usam capa e batina e os que não usam, a canção mais popular” e aquilo que poderá estar nas franjas ou fronteiras daquele género musical, afirmou à agência Lusa o realizador Tiago Pereira.
A iniciativa é um arquivo que se pretende “bastante aberto e vivo” e que “não discrimina o que é ou não a Canção de Coimbra”, aclarou o responsável do MPAGDP, referindo que, além das gravações dos músicos e intérpretes que existem, são também lançadas questões.
“Falamos com as pessoas e surgem perguntas sobre o que é a Canção de Coimbra, qual o papel das mulheres na Canção de Coimbra, se há celeuma ou não há celeuma”, contou.
Para Tiago Pereira, importava que o arquivo fosse “o mais abrangente possível numa primeira fase”, num projeto que pretende continuar a acrescentar registos ao primeiro passo que agora é dado.
No processo de criação deste arquivo, o realizador encontrou “muitos músicos a escreverem e a comporem repertório novo, a fazerem uma nova Canção de Coimbra, a mostrar que o sangue novo aparece, que aprende, mas que não fica preso ao repertório da grande família Paredes”.
“Eu acho que há um postal etnográfico que vai passando, mas depois, conhecendo-se a Canção de Coimbra, percebe-se que o fluxo nada tem a ver com o postal. A ideia de Canção de Coimbra é tudo menos cristalizada”, vincou.
Segundo Tiago Pereira, a Canção de Coimbra “é um fluxo constante”, até alimentado pela entrada e saída de jovens na cidade universitária.
O arquivo, na sua perspetiva, mostra que este género “não está preso ao postal de cantores de capa e batina”, até porque ele próprio nasce como “processo de mistura de muitas coisas – da canção popular da cidade, de músicas tradicionais que foram lá parar, da questão da erudição e da ópera”.
No âmbito do festival, a MPAGDP produz ainda um espetáculo na sexta-feira, em que reúne músicos de escolas e géneros diferentes, cruzando-os com a Canção de Coimbra.
Na sexta-feira, no Grande Auditório do Convento São Francisco irão atuar o projeto Fala Povo Fala, a dupla de música cigana Toy e Emanuel Matos e Joana Carvalho, que aborda a experiência de mulher num género ainda profundamente masculino.
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