Política

Coimbra: Carlos Encarnação destaca paixão pelo trabalho autárquico

Notícias de Coimbra com Lusa | 4 horas atrás em 01-10-2024

 Quatro antigos presidentes de Câmara que exerceram funções entre 1976 e 2021 destacaram a proximidade às pessoas no trabalho autárquico, diferente do que sucede no Governo, enaltecendo o cargo por permitir resolver problemas reais dos cidadãos.

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A um ano das próximas eleições autárquicas, Fernando Gomes (Vila do Conde e Porto), João Soares (Lisboa), Carlos Encarnação (Coimbra) e Adelaide Teixeira (Portalegre), ouvidos pela agência Lusa, destacaram a paixão pelo trabalho autárquico, a necessidade de dar resposta às pessoas que os interpelavam pela cidade ou o facto de a rua ser uma extensão do seu gabinete no município.

“Um presidente de Câmara tem um poder muito grande, que vai muito para além daquilo que a própria legislação determina. Dada a tradição do municipalismo em Portugal, as populações veem no presidente de Câmara, genericamente, independentemente dos partidos, a pessoa que pode resolver os problemas, e há uma ligação muito próxima entre quem tem a gestão política do município e as próprias populações”, disse Fernando Gomes.

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“Há ali uma proximidade muito grande, um indivíduo vai aos cafés, vai aqui, vai ali, e está sempre a ser contactado. E depende da própria orientação que ele der o sucesso ou insucesso das políticas que praticar”, sublinhou o ex-presidente de Vila do Conde (1976-81) e do Porto (1990-99).

Num município grande como o Porto, mas também nos mais pequenos, os munícipes “querem sempre falar com o presidente, porque é aquele em quem depositam a esperança de ver o seu problema resolvido”, embora tal nem sempre seja possível.

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Fernando Gomes, 78 anos, garantiu, no entanto, que, no seu tempo de autarca, nomeadamente no Porto, existiam orientações “para as pessoas serem recebidas pelo poder político”.

“E quando os problemas eram um bocado mais graves, era eu próprio que tratava de falar com as pessoas”, frisou. Tal como hoje, as questões também tinham resposta nas reuniões públicas do executivo.

“É essa tal proximidade, porque se não déssemos seguimento, mais tarde ou mais cedo havíamos de encontrar essas pessoas. Eu andava na rua, nunca me refugiei em carros da Câmara e sempre fui muito acarinhado pelas pessoas do Porto”, sustentou Fernando Gomes.

Já em Lisboa, o também socialista João Soares, que foi presidente do município entre 1995 e 2001 (antes já tinha sido vereador, desde 1990, nas presidências de Jorge Sampaio, de quem era número dois), declarou a paixão pelo trabalho autárquico e pela capital do país.

“É dos trabalhos mais fascinantes que se podem exercer em termos públicos. É um trabalho de proximidade com as pessoas, em que tem de conhecer o terreno muito bem com os seus próprios olhos, tem de ser capaz de sonhar projetos, de os aplicar e depois de ver se foram úteis ou não e se serviram às pessoas”, argumentou.

João Soares, hoje com 75 anos, contou à Lusa um episódio ligado à sua paixão pela função, numa conversa com Jorge Sampaio, na altura presidente da Câmara de Lisboa: “No início, o Sampaio dizia-me a mim ‘ai, se as pessoas soubessem o que a gente sofre’.

Na resposta, Soares foi taxativo: “A gente não sofre nada, no dia em que eu sofrer venho ter consigo e peço-lhe licença para me ir embora”, recordou.

“Eu tive sempre uma enorme satisfação em fazer o que estava a fazer, nas variadíssimas frentes de luta. Começava de manhã muito cedo e terminava às tantas da noite”, resumiu.

Ser presidente em Lisboa leva a compromissos muito diversos, como visitas de chefes de Estado, que por norma também visitam a Câmara da capital. João Soares recebeu, por exemplo, a visita do anterior rei de Espanha ou do então Presidente da China, passando por outras personalidades de vários países, mas notou que isso não o afastava de também receber o comum dos munícipes, reservando, todas as semanas, meio dia ou um dia inteiro para o fazer.

Nessas reuniões lidava com um pouco de tudo, desde desavenças domésticas – havia quem se tivesse chateado com o marido e quisesse mais um quarto, num bairro municipal – a um cano que estava roto ou ainda um passeio que estava torto “e que era preciso resolver”.

“É preciso gerir isso com sensibilidade e, sobretudo, com abertura para ouvir as pessoas”, enfatizou.

Em Coimbra, a função autárquica não era estranha ao social-democrata Carlos Encarnação, que já tinha sido vereador por duas vezes, nas décadas de 1970 e 1980, antes de vencer as eleições por três vezes, a partir de 2001 (no último mandato, em 2009, só cumpriu um ano e abdicou do cargo, devido a um problema de saúde).

Desses tempos como presidente, Encarnação, que fez 78 anos na segunda-feira, retirou de bom algo simples: o contacto com as pessoas.

“Moro relativamente perto da Câmara e ia todos os dias a pé. E ia despachando pelo caminho”, ilustrou, referindo que as pessoas o abordavam sobre assuntos diversos e ele manifestava essa abertura.

“As pessoas sabiam que podiam contar comigo, não era um tipo atreito a formalismos. E, portanto, a relação que estabeleci com as pessoas foi uma relação próxima e positiva”, declarou.

Do litoral para o interior e para uma pequena cidade capital de distrito, Portalegre, um município de 25 mil habitantes: é aqui que Adelaide Teixeira, 63 anos, professora do ensino secundário, tem uma história curiosa na sua relação com a política, de ‘ajudante’ de outras lutas nos tempos da faculdade em Coimbra, a vice-presidente da Câmara – primeiro, em 2009 – tornada presidente dois anos mais tarde, quando o então chefe do executivo, Mata Cáceres, eleito pelo PSD, renunciou ao mandato.

Uma desavença com o partido, que quereria impor à presidente em exercício uma equipa na candidatura autárquica de 2013, levou-a, ela que não era filiada, a concorrer, mas por um movimento independente – o CLIP, Candidatura Livre e Independente por Portalegre. Foi eleita presidente do município duas vezes consecutivas, exercendo o cargo até 2021.

À Lusa, Adelaide Teixeira disse ser “extremamente gratificante” conhecer os munícipes, aprender com eles – uns iam ao seu encontro só para desabafar, outros apontar aspetos que, muitas vezes, passavam despercebidos – e ver que “pequeninas coisas” realizadas enquanto autarca “fazem toda a diferença”.

“Nem que seja a recebê-las. Eu recebia diariamente pessoas, tinha um dia específico para receber, mas quando apareciam nunca dizia que não, recebia todas as pessoas. Nem que tivesse de ficar até às onze, meia-noite, à hora que fosse”, garantiu.

A ex-presidente de Câmara de Portalegre defendeu ainda que a componente humana “tem de existir num autarca”, especialmente num autarca de uma região do interior, despovoada e com uma população “extremamente envelhecida”.

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