Opinião
A Janela de Domingo
Antigamente eu fazia planos para os domingos. Agora sinto que é tempo de cometer pequenas loucuras durante os outros dias da semana, porque, também, é um risco viver conforme a música. O mundo está chato, há uma crescente tolerância à dor, habituámo-nos aos dias cinzentos.
Os domingos, aqueles recheados de gente a passear o cão e os filhos, e pessoas mascaradas fazendo a festa nas redes sociais ignorando os sons da guerra. Observo escandalizada este tempo em que se normaliza o absurdo. Há gente que diz “não” a tudo em nome do direito de discordar. Não questiono em qual bolha habitamos, mas, não consigo discernir os bons dos maus.
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É impossível relaxar entre a indiferença e o medo. Estamos todos feridos de alguma coisa, bem ou mal somos sobreviventes de uma história. O egoísmo é a face da indiferença que leva dois segundos a desfrutar. Enxergar o mundo como ele é implica vencer o culto da sombra gigante. Até quando? Indagava o poeta, educador e ativista, Melvin B. Tolson, “não faça perguntas que já sabe a resposta.”
Imagino o futuro, a fazer parte de um clã de desocupados, a olhar pela janela onde se avista apenas uma árvore. Na parede não havia quadros, mas conseguia ouvir o ranger das cadeiras e o som do sino da igreja.
Esse futuro lembra-me o passado, com as mãos espreguiçadas na janela a observar uma menina que rodopiava na paisagem, ensaiando um musical da Broadway. Sem as Artes seria impossível ver passar os domingos da minha janela.
OPINIÃO I ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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