Opinião

Congelar o Tempo

OPINIÃO | Angel Machado | 1 hora atrás em 21-09-2024

O tempo extrai de todos nós a juventude. Ele não costuma ser rápido nem lento. Das poucas virtudes que me restam, sublinho a paciência, uma cultura idílica que me ajuda a confrontar a realidade sem perder a razão.

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O tempo é calculado num século de crítica estética inimaginável. É importante que fujamos dessas ideias ortodoxas sobre a possibilidade de escondermos a idade que temos. Inevitavelmente, estamos todos a envelhecer.

E o assombro do envelhecimento não está na aparência. Resistir ao tempo traz cultura, conhecimento; os livros que se leem são viagens que deixam marcas, as rugas na testa.

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Viver muito e aparentar vinte anos devia ser o prémio da vida para a humanidade. É preciso olhar o mundo de uma só vez, como se Macondo de Gabriel Garcia Marquez existisse fora da literatura. Estou aqui a contabilizar os anos e os favores do tempo, que segundo Gabo, “o segredo de uma boa velhice nada mais é fazer que um pacto honesto com a solidão.”

Quando alguém diz: como o tempo lhe fez bem; o tempo não passa por você; é como um bom vinho; você está melhor agora -, devo relativizar?

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Gosto de elogios e, principalmente, quando alguém o faz sobre o meu estado de espírito, os meus sapatos e o meu trabalho. É cansativo ouvir as “injúrias” sobre os meus anos de vida e, ainda, perceber que a beleza, o júbilo do homo sapiens esvai-se. Mas, há quem adore ser comparado aos deuses.

A velhice é o estranhamento da vida. Para ser eternamente jovem é preciso morrer jovem, e para ser uma anciã é preciso viver. Questiono a fonte da juventude, esse cálice efémero, a fugacidade de nossas células à medida que envelhecemos. É possível rejeitar a aparência fazendo procedimentos estéticos, mas, internamente é impossível congelar o tempo.

OPINIÃO I ANGEL MACHADO – JORNALISTA

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