Portugal

Este é Luís Paulo. Herói salva aldeia inteira das chamas com trator que “só pega de empurrão”

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 10 horas atrás em 19-09-2024

Imagem: Facebook

Em Castro Daire, as chamas não deram tréguas durante, pelo menos dois dias. Soutelo, não foi exceção.

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O fogo chegou à noite, durante um baile de aldeia. Um grupo de jovens com Luís Paulo ao comando, que é estudante de engenharia civil, impediu o pior. “É fácil agora dizer que não senti medo. Claro que senti. Senti muito. Mas por sentir medo nos outros, não podia cruzar os braços, estar parado”, disse à CNN Portugal.

Havia música e animação quando alguém alertou: “O fogo já vem no Canado!”.

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As horas que se seguem são de terror e pânico. Tony é emigrante e conta como foi o fogo. “Aqui não veio nenhum bombeiro, só andaram lá para cima, na mata, e era só uma corporação. Isto foram os jovens, só com um trator, que tinha duas cisternas de mil litros atrás. Enchiam num tanque, despejavam, enchiam outra vez, despejavam. O trator é do Luís Paulo. E é nosso herói. A sério, façam-lhe uma estátua no Soutelo”, contou ao jornal.

Esta é a história de Luís Paulo, de 21 anos, e da Massey Ferguson que ele comandou. É estudante de engenharia civil em Viseu.

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Rumo à casa de Luís Paulo. “Mas isto não foi só ele. Seriam uns quatro, cinco, seis jovens. E a Andreia. Mulheres também”, relata Tony.

“Só páramos ontem [terça-feira] de noite, foram 24 horas a encher o trator. Estou cansada, muito, muito, muito cansada. As cisternas demoravam 15, 20 minutos a encher. Já perdi a conta às vezes que enchemos. […] Tínhamos casas em risco, pessoas aflitas. O trator do Luís Paulo salvou muitas casas”, elogia.

A mãe de Luís Paulo diz que ele não está em casa, que está nas Eiras, “porque o fogo voltou para lá”. “Mas liguem-lhe, vão ter com ele”.

O fogo já acabara. Luís Paulo, com o Massey Ferguson, vermelho, já antigo, apagara-o.

Para trazer o trator mais perto, engata uma mudança na ribanceira. “A Massey só vai lá assim, de empurrão”.

“Ainda não dormi. Esta quarta-feira parei duas horas, por agora chega. Quando isto acalmar, durmo. É quando tiver de ser.” Recusa louvores ou heroísmos. “Chamei dois ou três, o pessoal alinhou. Depois já éramos uns cinco. E fizemos o que nós podíamos. Era encher e ir, encher e ir.” Diz que tiveram o incêndio sob controlo meia dúzia de vezes. “Mas vira o vento e nem nos dava qualquer hipótese”, relata à CNN.

Não hesitou e pegou no trator. Avançou sobre o fogo. “É fácil agora dizer que não senti medo. Claro que senti. Senti muito. Mas por sentir medo nos outros, não podia cruzar os braços, estar parado. Não sei se fui ou não inconsciente. Sei que fiz o correto, socorrer.”

Não pensava no cansaço mas pensava quando acabaria: “Até que desisti de pensar. Apagávamos, reacendia. Apagávamos, reacendia. Seis, sete vezes. Voltava sempre.”

Diz que sentiu “tristeza, raiva e impotência”. “O que fazemos parece-nos sempre pouco.” E a raiva? “Claramente alguém meteu este fogo. E sinceramente nunca entenderei.” A quem o fez, se fez, seja por patologia ou por negócio, Luís Paulo fala diretamente. “Aos incendiários, digo que não podem estar bem consigo próprios, que precisam de ser ajudados. Isto é o pior que se pode fazer. Ameaçar casas, ameaçar vidas”, lamenta.

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