Opinião
“Vamos falar de menstruação?”
Chamamos-lhe, no meu ofício, ‘silly season’, a estação pateta, porque sobram fogos e faltam notícias. Noutros tempos a demanda dava grandes almoçaradas, transformados em jantares, acompanhados de cantigas e jogos de cartas. E disso fazíamos notícia…
Uma espécie de sueca do almoxarifado, ou, como prega frei Ventura, “isto está a atingir o nível do absurdo”. Uma exaltação a propósito do doutor Nuno e da falta de triagem, naquela novela que passa no Canal Parlamento.
E, contudo, escapa-lhe o mais. O alferes, um miliciano, prometeu -de jurar bandeira, que os militares terão aumentos significativos. Um soldado no primeiro escalão terá soldo de 961 euros mensais, enquanto o furriel leva 1.290 euros. É um princípio, que não separa trigo nem joio e que esquece o fundamental. Substituir as latas voadoras, botar mais barcos ao mar e mais canhões à quadricula.
Como se trata de um oficial de escalão inferior, o cavalheiro não percebe como estão exauridos os meios, descapitalizadas as casernas.
Uma “mudança de linguagem”, reflete o deputado Bruno Vitorino, a quem importam as coisas certas do país. Ao caso a “mudança de linguagem” num problema…de menstruação.
Vem tudo na campanha da Direção-Geral da Saúde sobre a menstruação que utiliza a expressão “pessoas que menstruam”, em vez de “mulheres”.
Tenho para mim, eu que nestas coisas sou reacionário primário, que uma mulher é Pessoa. Aliás é mais que Pessoa. E não falo de cor, nem das camisas que aparecem prontas, ou do almoço feito, ou do meu filho que de repente está algures, movido a uber maternal. Tampouco falo da carreira da minha mulher, que trabalha em três empregos. Falo do desprezo que damos às Mulheres neste país e da condição feminina não ser reconhecida em como somos uma sociedade matriarcal.
Bem pode o Alferes Melo botar marchem na ordem de serviço, que sem a Anita mandar, ninguém se move nesta família. A mãe é a maior, é mantra que se pratica.
Agora que o Vitorino está confuso entre ideologia e ciência, quando bastava o respeito, entretém-se o Parlamento em minudências, enquanto o país arde e não se conhece o balanceamento de despesa para 2025.
O Vitorino, perdoe delicado deputado, parece o Estádio Cidade de Coimbra. Mete água e há quem a troco de 300 mil euros, vá apontar a torneira de segurança e ainda arrebanhe os louros.
Coisas de terceira divisão, que isto é só arrecadar e nada de reparar. Por isso é que o arrendamento anda como anda.
Eu até ia lá, colocar uma tarja a pedir circunspeção, mas como vimos no jogo do Braga, a bandeira da Palestina foi arreada pela polícia porque criou mal-estar na comitiva israelita. E isto no nosso país.
Talvez o melhor, digo eu que não sou palerma, mas trabalho na estação dos tolos, fosse seguir o exemplo do Ministério Público no caso dos telefones.
As medidas de coação caducaram automaticamente, por terem completado um ano sem que tenha sido deduzida acusação. Não se faz nada, e a coisa escorre.
Assim, saiu-me o tiro à terra paterna que quereis, como o senhor lá do Minho e presidente de associação empresarial, que tem um problema qualquer com os fundos, e quer agora que todos os associados escrevam nos recibos dos vencimentos dos trabalhadores, a informação sobre o custo real do trabalhador para a empresa.
Um gráfico, “intuitivo e percetível”.
Quanto custas tu operário? Os 961 euros que mandou o Alferes Melo. Que a ideia tenha sido parida, – pode-se escrever parir senhor deputado?, na associação que junta os maiores grupos empresariais portugueses que desejam, como eu, acelerar o crescimento económico e social do país é que me entranha. Ou estranha?
Afinal a associação paridora é um grupo de pressão, reúne 42 grandes empresas em Portugal, e faturam mais de 82 mil milhões de euros ao ano.
Basta ir pelas fábricas, ver os carros parados na porta das empresas e perceber porque alguns bradam contra a tributação autónoma.
As empresas pagam tudo, automóvel, almoços, férias, seguros e, por lá, a factura da cabeleireira da mulher se não estiver ocupada a responder ao inquérito da menstruação.
O país não tem nada sério para discutir e diverte-se nesta deriva. Parece que além da tolerância, nos falta cultura democrática. E, já agora, canalizadores.
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