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Ana Frango Elétrico: “Como transam, como amam, como sentem” as pessoas queer e não binárias
A artista brasileira Ana Frango Elétrico, que atuou esta madrugada em Sines, no Festival Músicas do Mundo, escolheu cantar “como transam, como amam, como sentem” as pessoas queer e não binárias, acreditando que mostrá-lo gerará “empatia”.
Não gosta muito de classificações, mas aceita que se chame queer – termo que engloba um amplo espetro de identidades de género não normativas – à música que faz e que se distingue pela “poética”.
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A cantora e compositora – que integrou o cartaz da penúltima noite da 24.ª edição do Festival Músicas do Mundo – reconhece a importância de haver alguém em palco que, como ela, se identifica como pessoa não binária – termo que inclui as identidades de género que não são estritamente masculinas ou femininas.
“[É] uma questão de liberdade pessoal para todos os indivíduos”, constata.
Sendo “uma questão muito superficialmente falada ainda, no mundo em geral”, Ana Frango Elétrico observa que atualmente há “imagens de quem são essas pessoas, quem são as mulheres trans, quem são os homens trans, quem são as pessoas não binárias, mas, na prática, a gente tem pouco acesso à subjetividade dessas pessoas, como transam, como amam, como sentem, não só como são, quem são”.
Foi isso que tentou fazer no último disco, “Me chama de gato que eu sou sua” (assim mesmo, baralhando pronomes, pedido que faz a quem escrever sobre si).
A questão da não binariedade permeia o álbum: “A minha tentativa foi [chamar a atenção] de uma maneira não panfletária e não tentando falar de todo o mundo e sim de mim, de como eu amo, como eu sinto, como eu transo”, explicou.
O Brasil “continua sendo o país que mais mata pessoas trans do mundo” – e isso não mudou com o fim do governo de Jair Bolsonaro e a eleição de Lula da Silva para Presidente.
Mas Ana Frango Elétrico vê sinais de “esperança”, quando casos como os de Glória Groove e Pabllo Vittar (duas pessoas trans, “grandes drag queens”) são respeitadas, mostrado que as pessoas brasileiras têm “capacidade de respeitar os pronomes alheios”.
Porém, o Brasil “continua sendo um país muito agressivo, muito violento” contra as pessoas queer e não binárias.
Perante isso, há que continuar vivo e mostrar-se: “Quando a gente tem acesso à identidade, ao sentimento e à individualidade dessas pessoas, trans, não binárias, lésbicas, gays, acho que a gente consegue ter mais empatia, (…), conhece um pouquinho mais do outro, a esperança é essa.”
Ana Frango Elétrico – nome artístico de Ana Faria Fainguelernt, adotado para evitar prováveis dificuldades em pronunciar o real – assume “a reverência” pelo património musical e diz que a sua música bebe “muito de fontes de várias décadas passadas”, mas faz depois uma “mutação” genética que as traz “para dentro” deste que é o seu tempo, para a sua poética.
Antes “implicava um pouco” com as tentativas de situar a sua música neste ou naquele género. “Hoje em dia eu aceito. (…) Acho que consigo decifrar mais também as influências de pop rock com outras coisas”, refere.
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