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Pó de talco provoca cancro?

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 mês atrás em 08-08-2024

O anúncio da Johnson & Johnson relativo ao fim da comercialização do seu pó de talco em 2023 veio relançar a dúvida: o pó de talco causa ou não cancro de ovário?

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A polémica remonta a 2018, quando a marca foi condenada a indemnizar, em 4 mil milhões de euros, 22 mulheres que se queixaram de ter desenvolvido cancro nos ovários por usarem pó de talco.

Algumas mulheres usam pó de talco na vulva (área genital externa) por questões de higiene, e esta prática tem sido associada ao cancro do ovário. Agora, após uma análise exaustiva da literatura científica disponível, um grupo de trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS), constituído por 29 peritos internacionais, classificou o talco como “provavelmente cancerígeno” para os seres humanos. De acordo com a investigação, esta classificação foi feita com base numa combinação de “evidências limitadas de cancro em seres humanos (para o cancro do ovário)”, “provas suficientes de cancro em animais” e “fortes evidências mecanicistas [processo pelo qual uma substância produz efeito num organismo] de que o talco apresenta características-chave de agentes cancerígenos em células primárias humanas e sistemas experimentais”, pode ler-se na DECO PROteste.

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Após esta investigação, a OMS classificou o talco no nível 2A, o segundo nível mais elevado de risco de que uma substância possa causar cancro. De acordo com a mesma, os vários estudos realizados demonstraram consistentemente um aumento da incidência de cancro do ovário em seres humanos que declararam ter utilizado pó de talco na região perineal. E, embora a análise se tenha centrado em pó de talco que não continha amianto, não foi possível excluir a contaminação do talco com amianto na maior parte dos estudos. Além disso, não foi possível excluir, com razoável confiança, a existência de enviesamento na forma como a utilização de talco foi comunicada nos estudos, o que significa que não foi possível também estabelecer plenamente a existência de uma relação causa-efeito.

Apesar disso, os estudos realizados em animais demonstraram que a utilização de talco provocou um aumento da incidência de neoplasias (tumores) malignas nas fêmeas e uma combinação de neoplasias benignas e malignas nos machos de uma única espécie (rato).

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Os principais fatores de risco para o cancro do ovário são a idade (a incidência aumenta com a idade, ocorrendo a maioria dos casos após a menopausa), a predisposição genética e os fatores reprodutivos e endócrinos, como nuliparidade (nunca ter dado à luz) ou condições que afetem o útero, como a endometriose. Outros fatores de risco podem incluir excesso de peso ou obesidade e tabagismo.

A sintomatologia do cancro do ovário não é específica ou é mesmo ausente numa fase inicial. Nessa altura, o seu diagnóstico ocorre, habitualmente, aquando da realização de um exame ginecológico de rotina ou na investigação clínica e/ou radiológica de uma dor pélvica. Os sintomas surgem de forma inespecífica, seja sob a forma de sintomas do foro gastrointestinal, tais como náuseas, enfartamento, diarreia/obstipação, etc., seja como sintomas do foro urológico, como polaquiúria (frequência urinária aumentada) e urgência miccional. Não menos frequentemente, surgem sintomas como sensação de peso e/ou dor pélvica. Sangramentos fora do período menstrual (metrorragias) e alterações do ciclo menstrual também podem ocorrer.

Não é necessário usar pó de talco ou outro produto na vulva por razões de higiene. O uso de produtos perfumados pode causar irritação na pele sensível. Lavar a zona com água é suficiente.

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