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“De novo a Académica cobre-se de luto”

Notícias de Coimbra | 9 anos atrás em 19-01-2016

José Eduardo Simões, presidente da Direcção da AAC/OAF, recorda António Almeida Santos, ex-Presidente da Assembleia Geral do clube de Coimbra.

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De novo a Académica cobre-se de luto.

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almeida santos

Faleceu Almeida Santos, tantas vezes Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Académica, antigo estudante Faculdade de Coimbra da Universidade de Coimbra, repúblico de mil comparsas e aventuras, referência de sempre.

É tão difícil falar sobre António de Almeida Santos, Homem a quem Coimbra e a Académica tanto devem, sem deixar de sentir uma profunda tristeza, emoção e saudade.

Almeida Santos foi, provavelmente, a pessoa mais inteligente que alguma vez conheci. Impressionava pela elegância, trato e cultura impressionante; pela universalidade das ligações que mantinha; pela escrita brilhante que possuía uma limpidez de estilo só ao alcance de um ser superior.

Era um contador de histórias, um gentleman que cativava em qualquer situação, um sedutor nato, um notável tribuno e político, um advogado e jurista de eleição.

Para com os adversários nunca o vi, vencedor, deixar de estender a mão ao vencido. Por isso, não lhe conheci inimigos.

Sei e posso testemunhar, e é sempre bom lembrar, que após o 25 de Abril ajudou muitos que, com a Revolução, passaram por dificuldades.

Procurou sempre, de forma racional, ir ao âmago das questões que se colocavam, e se colocam, à sociedade contemporânea, procurando soluções que diminuíssem as desigualdades sociais. Pensava o futuro procurando um Mundo melhor.

Por isso, cedo se iniciou na política e se tornou um socialista de convicções, aberto a um humanismo de liberdade, princípio fundamental que professava sem dele abdicar.

E era um Homem que conhecia o significado das palavras HONRA e RESPEITO, como o comprova esta história verídica que me contou, ocorrida em meados dos anos 60. Numa disputa jurídica de grande complexidade em que Almeida Santos estava envolvido defendendo um dos lados, ambas as partes, sem o saberem, recorreram ao saber do Prof. Marcello Caetano, o nome grande do Direito Administrativo da escola de Lisboa.

Quando Almeida Santos se preparava para entrar com as alegações (contendo um parecer de Marcello Caetano), verificou que a parte contrária incluía outro parecer… do mesmo catedrático, sendo que as posições expressas nos dois pareceres divergiam de forma evidente. Pois o que fez Almeida Santos? Solicitou reunião com Marcello Caetano, onde lhe apresentou os dois textos. Caetano avaliou-os e concluiu que o parecer que tinha dado à parte contrária não estava juridicamente correcto.

Contudo, dado que a sua assinatura estava em dois pareceres divergentes, e que não podia reparar o erro, pediu a Almeida Santos que lhe comunicasse quando daria entrada com as alegações.

A razão da pergunta? Caetano considerou que a sua HONRA enquanto jurista e professor estava em causa, pelo que teria de pedir a demissão do cargo que ocupava na Universidade. Apesar das posições políticas diametralmente opostas, Almeida Santos respondeu com superior RESPEITO e HONRA: retirou o parecer das suas alegações.

Marcello Caetano foi depois do Presidente do Conselho de Ministros. Almeida Santos continuou sempre na oposição. E essa história de HONRA nunca transpirou.

Almeida Santos amava a Vida, que olhava com sabedoria. Amava Coimbra, a Académica. Amava a Terra, da paixão de Moçambique à Beira Alta, Trás-os-Montes ou o Algarve. Amava as pessoas e as grandes amizades que continuou a cultivar.

E adorava a Família, sua razão de ser e viver, Família a que transmito, em nome dos Órgãos Sociais da Académica e pessoalmente, um sentido pesar e uma enorme tristeza.

Que falta me vão fazer os longos almoços no Madeirense para conversar, com vivacidade, sobre tanta coisa. Que saudades das comunicações exigindo – a vitória, claro – da nossa Briosa, sob pena do próximo repasto ficar a meu encargo.

E que dizer de toda a Amizade e Solidariedade que sempre manifestou, porque sempre ACREDITOU EM MIM. Como descrever a gratidão por tanta AMIZADE, carinho e afecto, sentimentos que me eram preciosos e ficarão na memória? Não sei. Sei apenas que esta é mais uma perca irreparável que não devia ter acontecido.

Apetece questionar a estupidez, a loucura dos deuses, quando se permitem levar alguém como António de Almeida Santos tão cedo. E a Académica? Porque razão nos amputam das nossas referência maiores?

António de Almeida Santos, meu Amigo. Até Sempre!

Obrigado.”

José Eduardo Simões

Presidente da Direcção da AAC/OAF

 

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