Desporto
Nascido em 15 de novembro de 1974, nos arredores de Coimbra, Sérgio Paulo diz adeus ao Porto depois da Guerra Jorge Nuno – André Luís
O treinador Sérgio Conceição desvinculou-se hoje do FC Porto desgastado pela crise do sétimo ano, com a quebra exibicional a ditar um inédito terceiro lugar na I Liga de futebol, agravado pelas sequelas de uma tensa transição presidencial.
Seis dias depois da investidura de André Villas-Boas na SAD, os ‘dragões’ negociaram a rescisão do técnico, que até tinha entrado recentemente em rutura com Vítor Bruno – seu adjunto há 12 anos e potencial sucessor no cargo -, e foi vincando a eterna gratidão pelo anterior presidente Pinto da Costa face à crescente mudança no universo ‘azul e branco’.
Sérgio Conceição chegou a renovar contrato por mais quatro épocas, até 2028, em 25 de abril, quando faltavam 48 horas para um ato eleitoral sem precedentes na história do FC Porto, sem que essa decisão fosse unânime ou tivesse ajudado o dirigente mais antigo e titulado do futebol mundial a evitar um deslize histórico ao fim de 42 anos e 15 mandatos.
Villas-Boas tomou posse no clube 10 dias depois das eleições, mas o recordista de jogos (379), vitórias (274) e troféus (11) no banco portista continuou a ser respaldado por Pinto da Costa na SAD até à conquista da Taça de Portugal pela quarta vez nas últimas cinco edições, e terceira consecutiva, graças à vitória perante o recém-campeão Sporting (2-1, após prolongamento), na final da 84.ª edição da prova, no Estádio Nacional, em Oeiras.
Ao suplantar Jorge Jesus, que o tinha orientado no Felgueiras (1995/96), como treinador mais laureado por um só clube nacional, Sérgio Conceição evitou uma inédita época em ‘branco’ no FC Porto, enquanto já dava sinais de que estava de saída 2.552 dias depois.
Competitividade nos píncaros, polémicas sem fim e tiradas marcantes retratam o técnico, de 49 anos, que chegou a intercalar três títulos (2017/18, 2019/20 e 2021/22) com outros tantos segundos lugares na I Liga, antes de encarar a pior prestação do clube na última década, ao ser terceiro em 2023/24, com 72 pontos, a 18 do Sporting e a oito do Benfica.
Os ‘dragões’ habituaram-se a ser estrategas na Liga dos Campeões, traço indelével com Sérgio Conceição – somaram cinco presenças na fase a eliminar e duas idas aos quartos de final em sete temporadas -, mas estão de volta à Liga Europa, cujo novo formato em 2024/25 não atenua uma diminuição de receitas tão clara quanto inoportuna para a SAD.
As contas debilitadas foram uma constante desde que o técnico chegou dos franceses do Nantes, em junho de 2017, fase a partir da qual a administração ficou sob alçada do ‘fair play’ financeiro da UEFA por cinco anos, tendo essas restrições voltado no mês passado.
Nem os cerca de 540 milhões de euros (ME) acumulados em vendas desde 2017/18 nem os prémios da UEFA, estimados em 340 ME, deram folga ao FC Porto, que deixou sair vários titulares a custo zero e sentiu dificuldades em capitalizar alguns reforços, num total de 280 ME investidos.
Norteado pelo discurso frontal, efervescente e de exigência plena, Sérgio Conceição deu reprimendas públicas à SAD pela quebra gradual da qualidade dos plantéis e reivindicou méritos por ter procurado fazer muito com pouco, enquanto resgatava a mística do clube.
O campeonato conquistado em 2017/18 foi simbólico, uma vez que, apesar da badalada escassez de reforços, os ‘dragões’ evitaram um inédito ‘penta’ do Benfica e voltaram aos troféus quase cinco anos depois, findando o maior ‘jejum’ do ‘reinado’ de Pinto da Costa.
Ao agregar duas ‘dobradinhas’ (2019/20 e 2021/22), mais três Supertaças (2018, 2020 e 2022) e a única Taça da Liga do seu historial (2022/23), o FC Porto arrebatou 11 dos 28 troféus nacionais disputados em sete épocas, contra oito do Sporting e cinco do Benfica.
Assumindo, sem hesitar, que não vinha para aprender, mas para ensinar, quando voltou ao clube no qual finalizou a sua formação como jogador e teve cinco conquistas na dupla passagem pelo conjunto principal (1996-1998 e 2004), Sérgio Conceição adaptou-se em função dos recursos ao dispor e variou nuances táticas nos tradicionais ‘4-4-2’ ou ‘4-3-3’.
A obsessão por chegar rápido à baliza adversária, sem grandes preocupações estéticas, encontra parecenças no modo como subiu a pulso no futebol e jamais virou a cara à luta, mesmo quando ficou órfão aos 15 anos, alimentando-se pelo desejo indómito de vencer.
Nascido em 15 de novembro de 1974, em Ribeira de Frades, nos arredores de Coimbra, Sérgio Paulo Marceneiro Conceição impôs-se como homem de família, devoto e solidário perante as agruras da vida, definindo um temperamento impulsivo e atraído pelo choque.
Além das 25 expulsões como técnico do FC Porto, envolveu-se em diversas altercações, algumas em defesa dos cinco filhos futebolistas – já orientou Rodrigo e Francisco, atual extremo ‘azul e branco’ -, que nasceram da paixão de infância com a sua esposa Liliana.
Esse caráter, de semblante volátil em função do resultado, raras vezes foi consensual e agudizou-se numa esforçada carreira como extremo, na qual brilhou pela Lazio, com as conquistas da Liga italiana, Taça das Taças e Supertaça Europeia, alinhando ainda pela seleção principal portuguesa no Euro2000 e no Mundial2002, com 12 golos em 56 jogos.
Sérgio Conceição deixou os relvados em representação do PAOK Salónica, então do ex-selecionador luso Fernando Santos, e subiu a diretor desportivo dos gregos, em 2009/10, antes de voltar a Liège, onde tinha sido eleito melhor jogador da Liga belga, em 2005/06, para se aventurar nos bancos como adjunto do amigo Dominique D’Onofrio no Standard.
A estreia como técnico principal deu-se na Olhanense, em janeiro de 2012, seguindo-se Académica, Sporting de Braga, Vitória de Guimarães e Nantes até rumar ao FC Porto e personificar as máximas erguidas nos anos 70 por Pinto da Costa e José Maria Pedroto
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