Opinião
Estamos preparados para a Inteligência Artificial?
Os riscos e as potencialidades da inteligência artificial (IA) são temas que, se fossem um prato, estariam temperados com doses generosas de paranoia e utopia. De um lado, há quem veja a IA como o próximo vilão de um filme de ficção científica. Do outro, aqueles que a tratam como a salvação da humanidade.
Comecemos pelos catastrofistas. Para eles, a IA vai roubar empregos, transformar-nos em marionetas e, eventualmente, decidir que já não somos necessários. Não há dúvida de que algumas tarefas humanas se tornarão obsoletas, mas transformação talvez seja um termo mais adequado do que apocalipse.
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Pensemos em alguns exemplos, desde logo na saúde: a IA analisa exames médicos com uma precisão que faria qualquer médico corar e, se diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais eficazes se tornarem uma realidade, haverá razão para desconfiarmos de um computador mais do que desconfiamos, por exemplo, de um estetoscópio? E na educação, a IA não fica atrás. Longe de substituir professores, as tecnologias educativas personalizam a aprendizagem, ajustando-se ao ritmo e às necessidades de cada aluno. Isto é o equivalente a um professor particular para cada estudante, sem os custos exorbitantes. O fator humano nunca será substituível, certamente, mas que argumentos existirão para ser contra algo que pode permitir que qualquer um, em qualquer lugar, aprenda ao seu ritmo?
Claro que não podemos fechar os olhos aos desafios, sendo o maior deles, provavelmente, a privacidade. Vivemos numa era de big data, onde os nossos dados são a nova moeda, pelo que regulamentações rigorosas são essenciais para garantir que a IA não se transforma num Big Brother real. As questões éticas são igualmente relevantes, como a possibilidade de vieses algorítmicos poderem perpetuar desigualdades sociais existentes ou até mesmo criar novas formas de discriminação e desfavorecer grupos minoritários, ou a questão da manipulação da informação, através da disseminação incontrolada de notícias falsas com o objetivo de influenciar a opinião pública ou manipular comportamentos.
Em suma, a IA é como uma faca de dois gumes: pode cortar o pão ou os dedos, dependendo de como a usamos.
O que precisamos é de uma abordagem equilibrada, que promova a inovação responsável e proteja os nossos direitos. Com um pouco de bom senso e uma regulamentação assertiva, a IA pode ser a chave para um futuro mais próspero e justo. E quem sabe, talvez um dia possamos olhar para trás e rir dos nossos medos infundados, como fazemos hoje com os mitos antigos.
(E agora, a provocação do cronista: se eu lhe disser que todo o texto anterior foi criado por um assistente virtual de Inteligência Artifical, em poucos segundos e com um conjunto mínimo de indicações, acredita? A maior ou menor predisposição do leitor para aceitar essa eventualidade dirá algo sobre o quão alerta está para este tema, mas o simples facto de essa ser uma hipótese verossímil é, só por si, uma pequena amostra de como a IA está pronta para se incorporar nas nossas vidas de uma forma significativa. Por isso, é na verdade relativamente indiferente saber se este texto foi escrito por uma pessoa ou uma máquina, mas não é de todo indiferente responder a outra pergunta: E então, estamos preparados para tudo o que a IA pode mudar?)
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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