Crimes
Percentagem de denúncias de casos de violência sobre idosos é maior em meios urbanos do que no meio rural
Mulheres, viúvas, são a maioria das vítimas. Cerca de 70% está fisicamente dependente ou semi-dependente do cuidado de terceiros. Violência psicológica e negligência manifestam-se em 55% e 41% dos casos, respetivamente. Lisboa, Setúbal e Porto são os distritos com mais denúncias.
Um retrato sobre o fenómeno da violência contra idosos é apresentado pelo Serviço SOS Pessoa Idosa que analisa e reflete sobre os cerca de 2000 casos recebidos em 10 anos de existência.
A maioria das situações proveio de meio urbano (64%), contudo, segundo Marta Ferreira, responsável pela Linha “sentimos um aumento das situações provenientes de meios rurais ao longo dos anos, chegando agora aos 21% nas aldeias e 15% em zonas como as vilas que se categorizaram como moderadamente urbanas”.
A responsável explica que “nos meios com mais densidade populacional há tendência para haver mais situações e maior facilidade em denunciar, sendo que há mais pessoas jovens, com mais aptidão para aceder à informação e meios de denúncia”.
manipulação, entre outras, incitando uma cultura de medo, em que as consequências para as vítimas são graves e difíceis de reverter”. Já a negligência, patente em 41% das situações assenta, fundamentalmente, na omissão intencional de cuidados, porém também foram recebidos casos de negligência resultante da falta de conhecimento ou de recursos por parte dos cuidadores. Para Marta Ferreira, “a sensibilização e a formação podem constituir estratégias para prevenir e combater a negligência”.
Dentro desta tipologia integra-se a autonegligência, a afetar 12% das pessoas idosas, que surge quando, por feitio ou doença mental, a pessoa recusa cuidar de si ou aceitar apoio, comprometendo a sua saúde, segurança e, em última instância, a sua sobrevivência.
A responsável revela que “aqui encontram sérias dificuldades na operacionalização da ajuda. As famílias já estão exaustas, os profissionais não conseguem atuar, o que conduz a um sucesso moroso e tardio na maior parte das intervenções que acompanham”.
A violência financeira foi exercida em 28% dos casos, seguida da violência física, 20%, e abandono, 11%. Em 8% das situações houve violência institucional e não foram salvaguardados os cuidados adequados aos utentes da resposta. “Este tipo de violência ocorreu, principalmente, em estruturas a carecer de licenciamento e, consequentemente, de fiscalização”.
Cerca de 30% das pessoas passam dificuldades financeiras, não tendo rendimento suficiente para fazer face às despesas e para a supressão das necessidades. 45% das vítimas tem apoio da família e 25% tem rede de suporte formal. O Serviço “acredita que a carência económica constitui um fator de risco para a ocorrência de violência, bem como a ausência de retaguarda de suporte familiar e a inexistência de integração em serviços da rede de apoio formal”.
As vítimas são maioritariamente mulheres (63%), viúvas (58%), a residir sozinhas (38%) ou com familiares que não o cônjuge (30%).
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