Opinião
O silêncio salva
Viver é um desassossego, porque preciso relacionar-me com as pessoas, embora, tente com um sorriso demonstrar que sou um ser social. Mas, dentro de mim há uma luta constante com o que eu sou, aquilo que eu gostava de ser e o que os outros esperam de mim.
A janela é um instrumento de apoio para aliviar as minhas tensões mundanas, é lá que acompanho o itinerário das pessoas que não conheço, mas, que uma ou outra, gentilmente, cumprimenta-me com o “bom dia”, acompanhado com um sorriso que, estranhamente, eu também, tenho nos lábios. Posso estar triste, mas, não há demonstração de desgosto para o outro. Aliás, é assim que fingimos viver atrás das cortinas, onde podemos esconder a “vidinha” sem glamour.
O que sou quando estou só? Quais os meus pensamentos e ações? Quem pode saber de mim mais do que eu? A vida é esse desassossego, porque tememos as respostas, talvez, porque não as queiramos justificar. O que sentimos ou/e vemos podem representar as escolhas que um dia fizemos, ou simplesmente, a escolha diária e local, se contrair ou se expandir conforme a circunstância.
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Nesse contexto de possibilidades a solidão é uma companhia. Costumo reforçar a rotina, e sempre que posso contrariá-la, porque há muito que fazer entre o que é certo e o que o livre arbítrio propõe. Mesmo com a informalidade da casa, tento ser coerente, as boas maneiras estão desde a casa de banho à cozinha, ao contrário do que pensam; habituei-me a ser assim, para que em público a minha cabeça esteja mesmo em cima do pescoço.
O silêncio dessa “vidinha” é equivalente ao zelo pela aparência e por aquilo que não conseguem ver. Não é tão boa ou má, existir nesse lugar desconfortável da sociedade global, sem a dimensão exata e sem saber, muitas vezes, o que vale a pena para resistir.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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