Região

Promessa de metro no ramal da Lousã atraiu centenas de moradores há cerca de 20 anos

Notícias de Coimbra com Lusa | 7 meses atrás em 05-05-2024

A promessa de instalação de um metropolitano ligeiro de superfície no antigo ramal ferroviário da Lousã, desativado há mais de 14 anos, atraiu há mais de duas décadas centenas de famílias para Miranda do Corvo e Lousã.

Nos finais do século passado e início do novo milénio, o anúncio de que a velhinha automotora a diesel do ramal da Lousã, inaugurado em 1906, ia ser substituída por um moderno metropolitano ligeiro de superfície, despertou o mercado da construção em Lousã e Miranda do Corvo, e a procura de habitações por pessoas da cidade e arredores de Coimbra.

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“Há cerca de 20 anos assistimos a um ‘boom’ de vendas, com a deslocalização de pessoas da cidade de Coimbra para Miranda do Corvo, Lousã e Serpins (Lousã)”, recordou à agência Lusa o consultor imobiliário Carlos Mingachos, diretor da Century 21 Investement da Lousã.

De promessas em promessas, os sucessivos Governos foram adiando a chegada de um novo, moderno e confortável meio de transporte de ligação à cidade de Coimbra e as esperanças de quem comprou casa nestes concelhos foram-se esfumando com o passar dos anos. Uns acabaram por ficar, mas outros venderam as casas e regressaram à sede de distrito.

“Como trabalho em Coimbra há 45 anos, há cerca de 20 decidi comprar habitação em Miranda do Corvo, próximo da estação ferroviária, com a perspetiva de ser servido por um moderno sistema de transporte, que seria uma forma fácil, cómoda e económica de me deslocar, mas isso nunca aconteceu”, lamentou à agência Lusa António Barbosa, de 65 anos, natural de Penafiel.

Com o passar dos anos, a desilusão deste técnico superior da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) acentuou-se e, em determinado momento, também sentiu vontade de voltar a Coimbra com a família, mas “já não deu para mudar, porque nessa altura o apartamento valia menos do que o preço de compra”.

“Fiquei muito desiludido por nunca ter vindo o metropolitano e não consegui mudar-me, porque houve uma grande desvalorização na altura em que toda a gente estava a vender para sair de Miranda do Corvo”, disse António Barbosa, lembrando que, só no seu prédio, três condóminos regressaram a Coimbra.

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Em finais de 2009 e início de 2010, “quando os carris da centenária linha ferroviária começaram a ser arrancados, assistiu-se a um fenómeno inverso, com as pessoas a venderem as casas e a mudarem-se para a periferia de Coimbra”, recordou Carlos Mingachos, de 59 anos, que opera há 26 anos no mercado imobiliário nos concelhos da Lousã e Miranda do Corvo.

Com a interrupção das obras em finais de 2010, por razões financeiras, os utentes do serviço público ferroviário do ramal da Lousã começaram a ser transportados de autocarro, o que se mantém até à atualidade, gerando mais desconfianças sobre o projeto, que acabou por ser reformulado para a instalação de um metrobus (autocarro elétrico).

Os pais da psicóloga Sara França, de 37 anos, mudaram-se de Coimbra para Miranda do Corvo no ano 2000 atraídos pelo mercado de habitação mais aliciante e o comboio que garantia uma ligação rápida à cidade onde ambos ainda trabalham.

“Viemos para Miranda do Corvo, onde não tínhamos qualquer ligação, e por cá ficámos. Quando se falou mais num novo sistema de transporte para o ramal da Lousã, o meu pai dizia que ainda ia trabalhar de metro, mas passaram-se 24 anos e vai aposentar-se em julho sem concretizar esse desejo”, enfatizou.

Sara França constituiu família em Miranda do Corvo e a falta de um sistema de mobilidade eficiente para Coimbra levou-a a ter de adquirir mais uma viatura para a família, já que trabalha por turnos, em Coimbra, e não consegue articular as viagens com o marido.

Com a iminente entrada em funcionamento do Metrobus entre Serpins e Coimbra, prevista para o final deste ano, o diretor da imobiliária Century 21 Investement da Lousã diz que se começa a perceber o regresso de pessoas, mas que “os promotores ainda não acreditam e não estão a apostar na construção”.

O antigo construtor lousanense Osvaldo Lopes, que há 14 anos se dedica à mediação imobiliária, lembrou também que muitas famílias que compraram casa em Lousã e Miranda do Corvo regressaram novamente a Coimbra quando perceberam que o metropolitano de superfície não vinha.

“E agora, não basta as pessoas verem as obras quase concluídas e o modelo experimental do futuro metrobus, porque gato escaldado de água fria tem medo”, reconhece o consultor imobiliário, que perspetiva uma “grande procura” de habitação nos dois concelhos atravessados pelo antigo canal ferroviário quando o novo sistema de transporte estiver a funcionar.

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