Opinião
Proibir ou educar?
Parece ser a próxima grande discussão que a sociedade pretende passar para os ombros da escola (como se esta não tivesse já o suficiente com que lidar): o excesso de utilização de dispositivos eletrónicos por crianças e jovens. Fala-se com cada vez maior alcance público sobre proibir os smartphones em ambiente escolar, argumentando com perigos que reconheço reais, como a dependência digital, o cyberbullying ou o acesso a conteúdos inadequados para as idades de que estamos a falar. Mas será que a proibição é a resposta?
A história já nos mostrou que a interdição, muitas vezes, gera mais curiosidade do que dissuasão. No passado, livros foram banidos e ideias foram censuradas, mas a sua atração apenas aumentou. Serão os smartphones, na verdade, mais uma vítima de uma espécie de cruzada moral, mesmo que bem-intencionada?
PUBLICIDADE
Acredito que a pedagogia é sempre a melhor arma. Em vez de proibir, devemos ensinar as crianças a usar a tecnologia de forma responsável. É preciso mostrar-lhes que os smartphones não são apenas ferramentas de entretenimento, mas também de aprendizagem, comunicação e criatividade. Aí, sim, as nossas escolas e profissionais de educação têm vindo a falhar e é legítimo que possamos dizer-lhes que têm de fazer melhor. A escola é o lugar de educadores, que abrem horizontes, não de polícias.
Existem estudos de universidades norte-americanas que demonstram que a utilização de dispositivos eletrónicos na sala de aula pode aumentar o envolvimento e o interesse dos alunos, da mesma forma que recorrer a eles para pesquisar informação tem o potencial de melhorar os resultados.
Potenciar uma utilização positiva de tablets ou smartphones trará também, inevitavelmente, benefícios que vão para lá das matérias da educação: a capacidade de avaliação crítica do conteúdo online por parte dos mais jovens, comprovadamente baixa em investigações sobre o tema, tenderá a diminuir, permitindo a formação de opiniões mais informadas.
Não é possível negar que o uso excessivo de ecrãs pode ter efeitos negativos na saúde física e mental, mas é importante lembrar que a tecnologia não é inerentemente boa ou má, tudo depende do uso que fazemos dela. Cabe à comunidade educativa contribuir para orientar as crianças para que a utilizem de forma responsável e proveitosa. Mas esse é também, e muito particularmente, o papel dos pais e da sociedade em geral.
Proibir o uso de smartphones nas escolas é uma solução simplista e que não resolve o problema. A verdadeira mudança virá da educação e da pedagogia. O futuro não pertence aos que proíbem, mas aos que educam.
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM MARKETING
Related Images:
PUBLICIDADE