Opinião
É correr para não morrer!
O exercício físico faz bem à saúde. Ninguém contesta.
Ao que parece, quando corremos uma maratona, jogamos uma partida de ténis ou, até, quando nos aventuramos num intenso jogo de mini-golfe, o nosso corpo liberta determinadas substâncias que se traduzem numa sensação de bem-estar e felicidade.
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Parece que é mesmo verdade… médicos, atletas, e cientistas, todos o confirmam. Nem o mais inveterado obeso, rodeado de bollycaos e ruffles de presunto, refuta a tese de que exercitar o corpo é uma prática benéfica à saúde do ser humano.
Mas, hoje, mais do que uma questão de saúde, esta é uma questão de sobrevivência. E não é para evitar diabetes ou ataques cardíacos fulminantes aos 50 anos que vale a pena fazer exercício. Nada disso… é preciso fazer exercício para sobreviver ao futuro próximo.
Basta recordar que, dentro em breve, a inteligência artificial — hoje capaz de produzir conteúdos, amanhã capaz de produzir revoluções — colocará o ser humano em segundo lugar no restrito pódio da cadeia alimentar.
Esta fatalidade colocará os robôs no lugar cimeiro do poder e os homens num papel secundário, provavelmente remetidos a animais de companhia, enviados para jardins zoológicos ou parques exóticos, onde as curiosas máquinas poderão passear as suas crias, dando-lhes a conhecer os seres, humanos, mais ferozes da fauna.
Adivinha-se que, assim como aconteceu a touros, leões ou cavalos, espera-nos, a homens e mulheres, uma vida difícil, em que seremos submetidos a tarefas performativas, instrumentais, tudo pelo bem-estar da espécie dominante: a máquina. Hoje nas ruas e gabinetes; amanhã nos parques caninos entretanto convertidos em locais didáticos para observação e estudo do ser humano — como são sensíveis estes robôs.
E é aqui que reside a questão existencial, de sobrevivência, já que — como sempre, e à semelhança das arenas romanas — sobreviverão os humanos mais fortes e perecerão os fracos e flácidos.
Os fortes, robustos, bonitos e virtuosos serão certamente rentabilizados pelas máquinas, cujo infalível algoritmo não dispensará um portentoso espécime humano. Haverá, certamente, uma triagem cruel que eliminará os mais fracos e sustentará os mais fortes, os humanos mais rápidos, mais ágeis, com ombros capazes de carregar meia dúzia de robôs.
De entre todos os seres humanos, os extraordinários serão adquiridos a peso de ouro em leilões concorridos que levarão as máquinas mais endinheiradas à loucura.
Os excepcionais, os ‘puros lusitanos’ — atenção, portugueses, que neste último campo partiremos em vantagem — serão direcionados a uma única missão: a procriação. Destinados a fecundar fêmeas e a reproduzir os melhores exemplares de ser humano alguma vez vistos pela robótica supremacista.
Os medianos, seres humanos saudáveis, musculados e vigorosos, serão encaminhados para confortáveis quintas, com boxes espaçosas e bebedouros a transbordar, com trabalho assegurado e boas condições de higiene.
E os mais frágeis, seres humanos que não apresentem a robustez física indispensável para uso das máquinas, serão, provavelmente, enviados para abate, para locais onde as suas coxas e pneus serão retirados e, posteriormente, utilizados para entulhar almofadas ou edredões — as máquinas também têm de descansar, afinal de contas.
Eu sei que parece uma perspetiva pessimista, uma realidade disruptiva que inspira pouca esperança no futuro. Contudo, é a única que me motiva a ir ao ginásio. Agora, sim, finalmente, estou convencido de que o exercício vale a pena. Quanto mais, melhor. É correr para não morrer!
OPINIÃO | BERNARDO NETO PARRA
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