Desporto
A corrida de Villas-Boas até chegar à (verdadeira) cadeira de sonho
André Villas-Boas venceu as eleições do FC Porto e vai cumprir o sonho de ser presidente do clube, destronando Pinto da Costa, com quem comemorou êxitos como treinador da equipa de futebol, mas teve divergências recentes.
Aos 46 anos, 13 após ter culminado uma época inesquecível no comando dos ‘dragões’, pontuada pela conquista de quatro troféus, entre os quais campeonato e Liga Europa, o candidato da lista B bateu de forma esmagadora (79,96% contra 19,44%) o dirigente com mais títulos e longevidade do futebol mundial, intitulado por si de “presidente dos presidentes”, protagonizando uma ‘viragem’ histórica.
Villas-Boas quer honrar o legado de 42 anos e 15 mandatos seguidos de Pinto da Costa, que levou o FC Porto à conquista de 2.585 troféus em 21 modalidades – 68 dos quais no futebol sénior masculino -, movido entre o desejo de mudança e um percurso obstinado.
Nascido em 17 de outubro de 1977, Luís André de Pina Cabral e Villas-Boas cresceu na zona nobre do Porto, mas a família aristocrática e de origens inglesas nunca se opôs ao seu fascínio por futebol e motores, eternizando uma juventude repleta de idas ao antigo Estádio das Antas em jogos dos ‘dragões’ com um encontro tão fortuito quanto decisivo.
Aos 16 anos, Villas-Boas passou a ter como vizinho o malogrado treinador inglês Bobby Robson, que havia sido despedido do Sporting e chegado ao FC Porto em dois meses, e com quem um dia meteu conversa sobre aspetos táticos no edifício onde ambos viviam.
Esse momento retirou-o do anonimato e colocou-o como adjunto dos juvenis do clube, enquanto obtinha as licenças de treinador e estagiava no estrangeiro, chegando a passar cinco meses como diretor técnico e selecionador das caribenhas Ilhas Virgens Britânicas.
De regresso aos escalões jovens ‘azuis e brancos’, seria convidado no início de 2002 por José Mourinho – que já o conhecia da ‘era’ Bobby Robson (1994-1996) e acabava de ser recrutado à União de Leiria – para assumir funções como observador no conjunto sénior.
Villas-Boas notabilizou-se na análise de adversários e contribuiu nos sete anos seguintes para o sucesso do setubalense no FC Porto (2002-2004), nos ingleses do Chelsea (2004-2007) e nos italianos do Inter Milão (2007-2009), antes de, ansiando ‘voos’ mais altos, ter esfriado laços com o ‘special one’ e restantes adjuntos para se lançar a solo nos bancos.
Contratado pela então primodivisionária Académica em outubro de 2009, não demorou a atrair o interesse dos ‘grandes’ com apenas 32 anos, mas a instabilidade do Sporting e a súbita intromissão ‘azul e branca’ conduziram-no ao clube do coração no verão de 2010.
André Villas-Boas foi visto como uma aposta arriscada de Pinto da Costa na sucessão de Jesualdo Ferreira, tricampeão nacional nas quatro épocas prévias, mas repôs o terceiro classificado da edição 2009/10 da I Liga no caminho dos sucessos dentro e fora do país.
Terceiro treinador mais novo a ser campeão português, consagrou um percurso invicto e marcado pela maior diferença pontual da história entre os dois primeiros colocados (21) – num sistema de três pontos por vitória -, a cinco rondas do fim, ao festejar o êxito sobre o Benfica (2-1) num Estádio da Luz às escuras e com o sistema de rega do relvado ligado.
Villas-Boas encontrava na postura dos rivais maneiras de espicaçar a sua própria equipa, levando-a ainda à superação nas decisões da Supertaça Cândido de Oliveira perante as ‘águias’ (2-0), que tinham negado o segundo ‘penta’ do FC Porto na época anterior, e da Taça de Portugal ante o Vitória de Guimarães (6-2), com ‘hat-trick’ de James Rodríguez.
Um cabeceamento certeiro de Radamel Falcao resolveu a final 100% portuguesa da Liga Europa com o Sporting de Braga (1-0), em Dublin, e ajudou os ‘dragões’ a alcançarem o sétimo e último troféu internacional, e quinto europeu, imitando o ‘quádruplo’ de 1987/88.
Aos 33 anos e 213 dias, André Villas-Boas passava a ser o mais jovem técnico a vencer uma prova da UEFA com futebol ofensivo, levando o Chelsea a pagar os 15 milhões de euros da cláusula de rescisão, batendo na altura o recorde de transações de treinadores.
A opção de largar a “cadeira de sonho”, expressão por si cunhada em 2010/11, a poucos dias do início da pré-época seguinte colocou o adjunto Vítor Pereira no comando do FC Porto e enfureceu vários adeptos, nada que declarações posteriores não tenham diluído.
Villas-Boas decalcava os passos iniciais da carreira técnica de José Mourinho, mas seria despedido ao fim de nove meses, mesmo tendo dado início ao percurso do Chelsea para as conquistas da Taça de Inglaterra e da primeira Liga dos Campeões do seu palmarés.
Seguiu-se o rival londrino Tottenham (2012-2013), o Zenit São Petersburgo (2014-2016), pelo qual conquistou campeonato, Taça da Rússia e Supertaça, os chineses do Shangai SIPG (2017) e os franceses do Marselha (2019-2021), entre o ‘sonho’ de pisar as areias do Rali Dakar (2018), findado à quarta etapa com um acidente ao volante de um Toyota.
Com o adeus prematuro ao futebol, foi preparando terreno para concretizar a intenção de concorrer à presidência do FC Porto, ao obter uma pós-graduação em Gestão Executiva nos Estados Unidos e ao capitalizar uma contestação sem precedentes a Pinto da Costa, com quem entrou em dissonância nos últimos anos, indiferente às acusações de traição.
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