Opinião
A vida e os livros
Para que servem os livros? Quiçá, para me lembrarem das pessoas mais importantes do meu crescimento. Algumas delas pensavam que os livros eram, apenas, peças de decoração e nem imaginavam que representavam o universo consciente do poder do conhecimento. Muitas delas não sabiam ler e estavam aprisionadas num mundo sem curiosidade e espanto.
Na minha vida, os livros proliferaram, assim como as pessoas. Nem todos bons, nem maus, mas, sempre como um ensinamento. Hoje, procuro na mansidão dos passeios, das brincadeiras e, principalmente, das frases sublinhadas dos livros que li, um propósito de não alienação.
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Quem me dera que fosse verdade, ter os livros sempre ao meu lado, os amigos e confiar nas suas palavras. Chegámos a um momento triste da nossa era, a beleza está a minguar com o egoísmo e a toxidade da lei da vantagem. Torna-se impossível encontrar a poesia que nos devolva a ingenuidade da infância.
Quem detém o conhecimento ensinou como ele é libertador. A tecnologia mais avançada da minha geração falhou. Vejo uma imensa escuridão sem grandes transformações. Vejo tantas pessoas iluminadas e, também, incompetentes nas relações humanas. A solidão cresce como uma floresta. Estamos a aprender a não comunicar, a isolarmo-nos, a empedernir os músculos do rosto. A sociedade do ser deu lugar à do parecer, a um teatro de sombras.
Atravesso a passadeira, sento-me no meu café preferido, peço uma bica e uma torrada com queijo. A rotina é quase sempre a mesma, mas hoje resolvi ler o meu horóscopo. Diz-me o que quero ler, mas a vida humana está cheia de vulgaridades e isso assusta-me.
No entanto, cito um célebre professor americano e CEO da The Nature Conservancy, John Sawhill, morto no ano 2000: “no final, a nossa sociedade será definida não somente pelo que criamos, mas pelo que recusamos destruir. A escolha é sua.”
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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