Opinião
O dia ideal para sair de casa
Este texto é um exercício de vaidade. Porque, convenhamos, que texto escrito neste momento que apele à participação nas eleições legislativas o não é? É mesmo necessário mais um, eventualmente repetindo os mesmos argumentos já tantas vezes enunciados? Sim, é, se para quem o escreve a democracia é importante, tanto quanto a acreditar que ela é importante também para outros.
Relevem, por isso, o seu caráter pretensioso, talvez até pedante, porque valores mais altos se levantam. O dia das eleições é o momento – talvez único, certamente raro – em que as diferenças se dissolvem e as desigualdades se silenciam.
A visão mais otimista dirá que é um dia em que não importam o género, a classe social, a cor da pele ou a orientação sexual, porque todos têm um voto e cada voto vale o mesmo. É tão verdade quanto mentira: não faltam casos de quem não pode votar ou fazê-lo em liberdade e segredo (muitas pessoas com deficiência, por exemplo, estão impossibilitadas de exercer esse direito sem que se façam acompanhar por outra pessoa, para não falar de constrangimentos vários a que estão sujeitas muitas comunidades marginalizadas). Mas é uma verdade a que devemos almejar, pela qual vale a pena lutar.
Porque, de facto, chega a haver poesia na constatação de que o voto do patrão não vale mais do que o voto do trabalhador, de que o voto do rico conta o mesmo que o voto do pobre, de que o voto do famoso é tão válido quanto o voto do anónimo. E a poesia é importante.
Em democracia, não há nada mais poderoso do que a ideia de que cada cidadão pode, com o seu voto, mudar o destino, contribuindo para que ele seja construído a cada escolha, a cada decisão, a cada voz que se ergue. A ideia de que o poder emana de todos – outra mentira que pode e deve ser verdade, que merece ser verdade.
Por isso, e também porque já chega de verborreia condescendente, vamos ao essencial: mesmo sabendo não só que a política não é exclusiva dos políticos, mas também que a nossa responsabilidade enquanto beneficiários do regime democrático não começa nem acaba no dia das eleições, não fique em casa. Se acredita na democracia, saia e vá votar.
Mas não posso deixar de lhe fazer também outro apelo: se não acredita, e só nesse caso, então não se levante.
OPINIAO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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