Coimbra
Há um “Oásis” em Coimbra que faz parte da história e cultura da cidade
O Café Oásis vai ser reconhecido como entidade de interesse histórico e cultural da cidade de Coimbra. Situado no Largo da Sé Velha, o segundo mais antigo café da cidade tem uma forte ligação ao movimento estudantil, principalmente durante as Crises Académicas de 1962 e 1969.
Na esquina da rua dos Coutinhos com o Largo da Sé Velha, foi criado em 1952 o Café Oásis. Propriedade de Mário Ferreira, o espaço licenciado como café e leitaria ocupou “o rés do chão de um prédio totalmente remodelado, onde, entre outros, tinham vivido o poeta presencista e cantor Edmundo Bettencourt e o brasileiro Lucas Junot, outro vulto da canção coimbrã”, como conta Carlos Santarém Andrade, antigo bibliotecário da Biblioteca Municipal de Coimbra.
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As suas caraterísticas especiais levaram a que se tornasse um ponto de encontro de “estudantes e não-estudantes, que aí preenchiam os seus ócios, nas mesas de mármore, entre uma bebida e o jogo de damas ou o dominó”.
“Ocupando inicialmente apenas o rés-do-chão esquerdo do prédio, constituído por uma única sala, a do gaveto, o espaço do Oásis foi ampliado e remodelado no princípio da década de 60, quando vagou o rés-do-chão direito (…). Ao café foram cedidos, desde início, a cave do prédio (as “catacumbas”, na terminologia do Mário do Oásis, e dos estudantes) e o quintal interior, para usufruto e arrumações”, cita o bibliotecário na publicação “Um café com história num bairro com história”.
Carregue na galeria e conheça alguns dos espaços deste café na Alta de Coimbra
A história do Café Oásis fica ligada às Crises Académicas de 1962 e 1969. Nesta última, há mesmo o registo fotográfico numa das paredes do café. Na imagem, é possível ver o anterior proprietário Mário Ferreira a ser visitado por Alberto Martins e Celso Cruzeiro numa cama de hospital após ter sido “barbaramente espancado pela polícia de choque e mordido por cães em frente à Pide” em Coimbra.
Arsénio Silva era, na altura, funcionário do “Mário do Oásis”. Em declarações ao Notícias de Coimbra, o atual proprietário do espaço recordou que o espaço foi usado durante estas duas crises académicas para a realização de reuniões contra o regime de António Salazar.
O Café Oásis era, também, um dos locais mais procurado pelos repúblicos dos Kágados, Baco e Prá-Kys-Tão que, “enquanto estudantes, o consideravam a sua segunda “casa” indo lá sempre tomar a bica após o almoço e no final da tarde e à noite nele se juntavam em amena confraternização e discussão das suas questões académicas e políticas”.
O espólio do café começa logo no exterior do edifício. Para além da denominação exterior “iluminada a néon”, é possível encontrar a peça identitária “Café Oásis” elaborada em ferro forjado colocada na parede ao lado do balcão.
Nas restantes paredes existem fotografias e obras de arte sendo de assinalar “um desenho da Alta a tinta da china oferecido em 1988 pelo pintor Costa Brites, as caricaturas da Queima das Fitas de um grupo de estudantes do curso de Engenharia Geográfica de 1996 desenhadas pelo caricaturista Luís Costa e uma serigrafia da Igreja de Santa Cruz oferecida em 2014 pelo artista plástico Mário Silva”, cita Carlos Santarém Andrade.
O painel de azulejos coloridos a representar os estudantes cantando para as tricanas que lavavam no rio, com Coimbra ao fundo, foi oferecida por um antigo morador. Todos estes aspetos foram tidos em conta na candidatura feita ao município de Coimbra para que o Café Oásis seja reconhecido como estabelecimento de interesse histórico e cultural ou social local.
A proposta foi aprovada por unanimidade na reunião do executivo esta segunda-feira, 19 de fevereiro. Agora, tem lugar um período de consulta pública durante 20 dias que levará à tomada de decisão final relativa a esta candidatura.
Desde a década de 80 que o espaço é gerido por Arsénio Silva. Atualmente, conta com o apoio da esposa Isabel Silva e da filha Patrícia Silva. O Café Oásis está aberto diariamente entre as 08:00 e as 20:00. Durante o dia, é possível tomar uma refeição rápida com alguns dos petiscos, wraps, tapas e omeletes confecionados no espaço.
Veja o Direto Notícias de Coimbra com Arsénio Silva, atual proprietário
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