Política
André Ventura e Mariana Mortágua mostram divergências e trocam acusações sobre candidatos “terroristas”
Imagem: RTP3
O presidente do Chega e a coordenadora do BE divergiram na terça-feira sobre a crise da habitação e a política de imigração, num debate tenso em que André Ventura e Mariana Mortágua trocaram acusações sobre candidatos com ligações a terrorismo.
No frente a frente no âmbito das eleições legislativas de 10 de março que opôs os líderes dos dois partidos que estão mais distantes no plenário da Assembleia da República, na RTP3, o primeiro tema abordado foi a habitação, com Mariana Mortágua a defender que a “procura de luxo” está “a pressionar os preços para uma subida”, remetendo esta conclusão para o Banco de Portugal.
“Sabemos que essa procura de luxo vem porque houve um benefício fiscal de 1.500 milhões de euros por ano a residentes não habituais, que o Chega apoiou, mas vem também de vistos ‘gold’”, afirmou, considerando surpreendente que o partido de André Ventura “queira reintroduzir os vistos ‘gold’, que são uma fonte de especulação imobiliária e a porta aberta para a corrupção”.
Já André Ventura assinalou que o peso dos vistos ‘gold’ no investimento imobiliário “é de 3%, ou seja, o peso dos vistos ‘gold’ no investimento imobiliário é zero, não tem nenhum impacto”.
“Isso que a Mariana Mortágua está a dizer é falso, é uma ideia pseudo-comunista, ou venezuelano-comunista, que é se há benefícios para uns, isto está a destruir o mercado todo. É mentira”, criticou.
O líder do Chega sustentou também que o alojamento local permitiu “reconstruir as cidades” e acusou o BE de querer “atacar os proprietários”.
Mariana Mortágua afirmou que o Chega é financiado por “interesses imobiliários” e que participou na comissão de inquérito sobre a TAP sem “dizer a ninguém” que o partido é financiado por um acionista da companhia aérea.
Na resposta, André Ventura disse ter orgulho de não ter “terroristas nas listas” do Chega.
“E também me orgulho de não ter candidatos vereadores na Câmara de Lisboa a comprar casas à Segurança Social e a vendê-las a cinco vezes mais o preço”, acrescentou, referindo-se ao antigo vereador do Bloco Ricardo Robles.
A líder bloquista retorquiu que o Chega “tem como número dois um dirigente da principal organização terrorista em Portugal, o MDLP, que fez 600 atentados, matou o padre Max e matou uma jovem”, referindo-se a Diogo Pacheco de Amorim sem dizer o seu nome, e instou o presidente do partido a “assumir essa responsabilidade”.
“Tenha vergonha do que está a dizer”, respondeu o líder do Chega, sustentando que Diogo Pacheco de Amorim “nunca foi condenado por terrorismo”.
“Os seus candidatos são condenados em tribunal por terrorismo. Pelo menos dois candidatos seus foram condenados, foram ex-membros das FP-25, […] mataram bebés, foram assassinos”, afirmou Ventura, perante a insistência de Mortágua de que tal é falso.
No que toca à imigração, o presidente do Chega defendeu um controlo e regulação, orientado “para as necessidades que o país precisa”, através da introdução de quotas com base “numa média do que as empresas precisam”.
“Não podemos continuar a ter imigrantes a entrar sem qualquer controlo, com toda a permissividade”, disse.
A coordenadora do BE considerou que “a política que o Chega defende para a imigração significa o caos” na economia e também para a sustentabilidade da Segurança Social, destacando as contribuições dos trabalhadores estrangeiros, e defendeu que “há imigrantes em Portugal porque há necessidade de trabalho imigrante”.
Mariana Mortágua indicou que a única imigração descontrolada é a clandestina, propondo “regras que permitam regularizar as pessoas”.
A bloquista argumentou também que o Chega propõe “menos impostos para a banca, menos impostos para os milionários, enquanto Ventura sustentou que o seu partido “defende baixa de impostos” para que Portugal consiga “atrair mais investimento”.
A luta contra a corrupção foi outro tema em que os dois discordaram, com o Chega a propor o aumento de penas e a regulação do ‘lobbying’ e o BE a apontar dificuldades na condenação, “porque o dinheiro está escondido em ‘offshores'”, e a defender que o recurso a este mecanismo seja ilegal.
Ao longo do debate, Mariana Mortágua acusou também o presidente do Chega de recorrer a truques e de instigar medo nos portugueses.
Por seu turno, André Ventura acusou a coordenadora do BE de “falsidade e hipocrisia”, de ser o rosto de uma “esquerda queque, esquerda fina” que não reconhece os problemas do país, e de não ter falado verdade quando deu o exemplo da avó num outro debate, quando falava sobre a lei das rendas.
“Eu não minto. A minha avó tinha 80 anos quando ficou a saber que aos 85 a renda podia saltar. Se acha que isto não mete medo a uma idosa é defender uma lei cruel e porque não quer saber da habitação”, criticou.
Sobre o que vai acontecer após as legislativas de 10 de março, a coordenadora do BE disse que o objetivo é “determinar a governação” e considerou que o partido está mais próximo disso “do que está André Ventura de fazer um acordo com partidos a quem anda a chamar prostitutas políticas”, nomeadamente o PSD, “porque ninguém se quer sentar ao seu lado “por causa das suas posições racistas e xenófobas”.
Já André Ventura acusou o BE de ser “muleta do PS”.
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