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Agricultores esperam “meio milhar de tratores” em Coimbra

Notícias de Coimbra com Lusa | 11 meses atrás em 01-02-2024

Centenas de tratores e máquinas agrícolas estão a percorrer, em marcha lenta, a Estrada Nacional (EN) 111 em direção à baixa de Coimbra, onde os promotores do protesto esperam juntar, ao final da manhã, meio milhar de veículos.

A manifestação, aparentemente espontânea e não integrada na programação do protesto do Movimento Civil Agricultores de Portugal, que hoje decorre em vários pontos do país, partiu de um grupo de produtores agrícolas do Baixo Mondego, que se concentraram em Montemor-o-Velho, a cerca de 25 quilómetros de Coimbra.

Em declarações à agência Lusa, o agricultor Armindo Valente explicou que o ‘cortejo’ de tratores saiu de Montemor-o-Velho cerca das 10:30 e vai “em marcha lenta até à avenida Fernão de Magalhães”, com concentração agendada junto às instalações da Direção Regional de Agricultura do Centro.

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“Alguns vão-se juntar a nós [ao longo do percurso] e o que esperamos é [ter] cerca de 500 tratores, meio milhar de tratores” em Coimbra, disse Armindo Valente.

Em causa, segundo o agricultor, estão as ajudas à produção, insuficientes para sustentar a produção de milho e arroz no Baixo Mondego, acrescidas do corte de 25% do financiamento nas medidas agroambientais, não anunciado previamente aos agricultores.

“Nós gastamos num hectare de milho cerca de 3.300 euros. Para realizarmos esses 3.300 euros, ao preço a que o milho está, neste momento, precisamos de 15 toneladas de milho e não é possível fazê-las face aos custos”, explicou.

Por outro lado, Armindo Valente vincou que o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) reconhece essa situação, porque não deixa os agricultores fazer seguros acima das 12 toneladas de milho.

“Ou seja, o IFAP reconhece que a produção média é de 12 toneladas e nós, com essas 12 toneladas, não conseguimos fazer face aos custos. E no arroz a situação é idêntica, não é possível continuar a produzir e chegar ao fim do ano e não ter dinheiro para fazer face às constas”, argumentou o agricultor do Baixo Mondego.

Já sobre a questão do corte no financiamento das medidas agroambientais, Armindo Valente explicou que os agricultores foram confrontados com a redução “no momento do pagamento”.

“Quando fomos à conta é que percebemos que tinham cortado 25% na receita das ajudas agroambientais”, criticou, recusando a explicação que alegadamente lhes foi transmitida pelo ministério da Agricultura.

“A senhora ministra veio dizer que houve mais agricultores a candidatarem-se às medidas agroambientais do que aquilo que estava previsto, mas isso é um trabalho do ministério, não pode ser feito pelos agricultores. Estou a contar com um valor, recebo outro e não sei como vou pagar as contas no fim do ano”, lamentou o produtor de milho e arroz.

E ironizou: “Isto é como o Estado cortar 25% do salário da ministra da Agricultura sem a avisar antes e a senhora ministra só descobre quando vê o recibo”.

Os agricultores estão hoje na rua com os seus tratores, de norte a sul do país, reclamando a valorização do setor e condições justas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.

O protesto, uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, decorre um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).

O pacote abrange entre outras, medidas à produção, no valor de 200 milhões de euros, assegurando a cobertura das quebras de produção e a criação de uma linha de crédito de 50 milhões de euros, com taxa de juro zero.

Segundo um comunicado divulgado na quarta-feira pelo movimento, os agricultores reclamam o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade.

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