Saúde
Alunos criam creme hidratante com restos de peixe e usam bactéria para regenerar tecido ósseo
Três alunos do Colégio Valsassina, em Lisboa, foram aos mercados buscar restos de peixe e produziram um creme hidratante, enquanto três estudantes do Colégio Luso-Francês, no Porto, usaram uma bactéria marinha para obter propriedades regenerativas ósseas.
Os seis alunos, com idades entre os 17 e os 19 anos e ensino secundário concluído, estão em Bruxelas, na Bélgica, a participar no concurso anual organizado pela Comissão Europeia para jovens cientistas, o EUCYS, que junta esta semana mais de 130 participantes de 36 países, que vão apresentar 85 projetos que serão avaliados por um júri.
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Os vencedores serão conhecidos no sábado.
Portugal está representado pelos projetos do Colégio Valsassina e do Colégio Luso-Francês, que venceram, respetivamente, as edições de 2022 e 2023 do Concurso Nacional de Jovens Cientistas, coorganizado pela Fundação da Juventude.
Joana Monteiro, João Henriques e Margarida Leite, então estudantes de Ciências no Colégio Valsassina, foram desafiados, nas palavras do professor de Biologia João Gomes, que os acompanhou, a identificar um “problema que necessitava de ser melhorado”.
Viram o mar como “uma oportunidade de trabalho” e assim germinou a ideia de criar um creme hidratante à base de colagénio (proteína gelatinosa) extraído de restos de peixe (peles, barbatanas, escamas) que foram arranjar aos mercados de Lisboa.
O protótipo do creme foi desenvolvido com o apoio de cientistas do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Posteriormente, com a Universidade Católica, os jovens aprenderam a ser empreendedores: como identificar potenciais clientes do seu produto, desenvolver um modelo de negócio, criar uma marca, um logótipo, uma campanha promocional.
No fundo, como descreveu à Lusa João Gomes, o projeto permitiu aos estudantes adquirirem competências, fazerem aprendizagens, trabalharem em equipa e com cientistas e terem a noção de que o “processo científico” também é feito de “erros e frustrações”.
“Estar aqui e vê-los a apresentarem [o projeto] desta forma, ao nível dos melhores, já é um prémio”, expressou o docente, a partir de Bruxelas.
Duas vezes por semana, e fora do seu tempo letivo, Afonso Nunes, Inês Cerqueira e Mário Onofre, que estudavam no Colégio Luso-Francês, estiveram a trabalhar com cientistas de um laboratório da Universidade do Minho especialista em regeneração celular.
Leram literatura sobre o assunto, falaram com cientistas e com a supervisão da professora de Biologia Rita Rocha conseguiram pôr uma bactéria marinha a produzir fio de teia de aranha (usando a sua formulação genética) e adicionaram um gene que “induz a diferenciação de células ósseas”.
O resultado obtido foi uma “seda de teia de aranha com o gene que pode ser implantada em tecidos ósseos lesionados”, disse à Lusa Rita Rocha, assinalando que a eficácia do material, que “não é tóxico”, será testada num próximo passo em modelos animais.
O mote para o trabalho era “mitigar a osteoporose na população envelhecida” e a “baixa densidade óssea entre os mais novos” devido ao sedentarismo, explicou a docente, que acompanhou a planificação do projeto, o processo laboratorial, o tratamento de dados, a elaboração de relatórios e treinou a capacidade comunicativa dos alunos.
Durante o trabalho, os jovens descobriram uma outra potencialidade da bactéria ‘Rhodovulum sulfidophilum’: a de que gerava um “subproduto do seu metabolismo”, no caso hidrogénio verde, uma energia limpa, ao produzir o fio de teia de aranha com o tal gene.
“É uma investigação que tem uma aplicabilidade prática, e isso motiva-os muito”, sublinhou Rita Rocha.
Afonso Nunes, Inês Cerqueira e Mário Onofre pretendem agora, como alunos universitários, “otimizar a produção de hidrogénio por parte da bactéria”, aproveitando as águas dos esgotos das indústrias de conservas, um meio favorável para o seu crescimento, e estudar a forma de “aprisionar e armazenar o hidrogénio para que possa ser utilizado”.
O projeto que apresentam em Bruxelas permitiu-lhes saber “colaborar, dividir tarefas, gerir o tempo, expectativas, falar sem medo, expor ideias, ouvir críticas”. Um “crescimento muito grande”, resumiu a professora Rita Rocha, que desde 2006 orienta trabalhos de alunos que vão a competições como o EUCYS, que premeia com 3.500 a 7.000 euros os que chegarem aos lugares do pódio.
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