Saúde
Estudo revela que mais de um quinto das mulheres negras em Portugal sofreu violência obstétrica
Mais de um quinto das mulheres negras e afrodescendentes em Portugal inquiridas num estudo afirmaram ter sofrido violência obstétrica na gravidez e quase um quarto no parto, situações que associam à raça, idade e condição social, segundo o documento.
De acordo com o relatório do estudo sobre “Experiências de gravidez, parto e pós-parto de mulheres negras e afrodescendentes em Portugal”, elaborado pela Associação Saúde das Mães Negras e Racializadas em Portugal (Samanepor), a maioria das inquiridas relatou “sentimentos positivos ao longo da gravidez”.
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Contudo, 10,7% não se sentiram respeitadas pelos profissionais de saúde durante a gravidez, 33,5% sentiram-se mesmo humilhadas e 41,1% negligenciadas.
Do total das 158 inquiridas, 21,4% afirmaram ter sofrido, durante a gestação, “violência obstétrica relacionada com questões de raça/etnia, idade, condição social ou outros fatores”.
“O facto de ser negra influencia. O facto de ter um ar mais jovem também influencia. O facto de as mulheres negras serem rotuladas por terem muitos filhos, que não fazem mais nada a não ser ter filhos, também”, disse Iva, num dos vários depoimentos que constam do estudo.
Durante o parto, 23,4% destas mulheres sentiram-se negligenciadas, enquanto 19,7% disseram que não se sentiram respeitadas e 17% afirmaram ter sido humilhadas.
No relatório refere-se que 24% das inquiridas afirma que sofreu violência obstétrica durante o parto, relacionada com questões de raça/etnia, idade, condição social ou outros fatores.
“Eu tenho a certeza de que sofri violência obstétrica e tenho a certeza que foi mais acentuada por ser uma mulher negra”, indica Sara, uma das participantes neste inquérito aplicado em formato digital e que resultou em 162 amostras, das quais 158 foram consideradas válidas.
Das inquiridas, 60,8% tem o ensino superior completo, 83,5% é trabalhadora por conta de outrem, com uma renda média familiar acima de mil euros.
“Apenas metade das mulheres foi informada sobre as opções de tipos de parto, enquanto a maioria foi informada sobre os sinais de urgência obstétrica (82,3%), sobre a amamentação na primeira hora (68,4%) e que maternidade deveria procurar no momento do parto (75,9%)”, lê-se no relatório.
A maioria das inquiridas (76,6%) não foi questionada sobre a posição em que queriam parir, predominando a posição litotómica (deitada de costas).
O inquérito revela que 84,4% das mulheres não tiveram um acompanhante da sua escolha em algum momento do trabalho de parto e 65,2% não receberam explicações sobre os procedimentos realizados, nem pedido de consentimento.
“O desprezo que eu senti, que não posso negar que senti desprezo. Senti que me ignoraram, que não elevaram as minhas expressões de dor, isso eu tenho a certeza que aconteceu”, avança Heloisa, uma das inquiridas.
Após a alta, a maioria das participantes (55,1%) foi acompanhada pelo centro de saúde, com a maior parte das informações nas consultas a visarem a amamentação e os cuidados do bebé.
“Apenas cerca de metade recebeu informações sobre saúde mental (43%), saúde sexual (53,2%) e alimentação da puérpera (43%)”, lê-se no relatório.
No pós-parto, 26,4% das inquiridas afirmaram ter sofrido violência obstétrica.
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