“É importante saber qual a localização dos acidentes, se foram em zonas urbanas ou não, nas capitais de distrito, no Norte ou no Sul”, afirma Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACAM). E quem tem a mesma opinião é Alain Areal, que acrescenta ser necessário uma “maior fineza dos dados”, caso contrário torna-se difícil encontrar justificações para o fenómeno.
No entanto, há contextos que ajudam a explicar e realidades que não se escondem por detrás dos números. “Têm aumentado as zonas de lazer para peões nos espaços públicos, nomeadamente em áreas urbanas como Lisboa”, aponta Manuel João Ramos. O responsável da ACAM refere que o fenómeno da “turistificação pode estar a causar este efeito colateral”, o de consumo de álcool na via pública. “Os espaços de divertimento noturno também aumentaram muito”, diz.
Já Joana Teixeira, presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, explica ter existido um “abrandamento das campanhas de segurança rodoviária” sobre o consumo de álcool ao volante e que devem ser reforçadas “novamente”. A psiquiatra realça o fenómeno do “binge drinking”, especialmente entre os jovens, que se traduz pela ingestão de várias bebidas alcoólicas numa ocasião.
No ano passado, houve menos vítimas mortais de acidentes rodoviários a serem autopsiadas pelo INMLCF: 294. Nos últimos seis anos, o pico ocorreu em 2018 com 417 análises realizadas. Mesmo com menos autópsias feitas, a proporção de condutores e peões com álcool no sangue subiu, especialmente em 2019, 2021 e 2022.
Os dados mostram um aumento expressivo da alcoolemia nos peões, mas também nos condutores, em que a taxa de álcool igual ou superior a 1,2 g/l esteve sempre acima dos 20% desde o ano de 2017.