Crimes
Ex-vereadora diz que nem “em pesadelos” poderia prever queda de árvore que matou dezenas de pessoas
A ex-vice-presidente da Câmara do Funchal Idalina Perestrelo, arguida no processo da queda de um carvalho no Monte, em 2017, afirmou hoje que nunca houve alertas relativos àquela árvore e que nem “em pesadelos” alguém poderia prever a tragédia.
“Nunca houve nenhum alerta referente ao carvalho”, disse Idalina Perestrelo, notando que, “pelo contrário”, a Câmara sempre recebeu “elogios porque o jardim estava bem cuidado”.
A arguida, que à data do incidente era responsável pelo pelouro do Ambiente e dos Espaços Verdes na Câmara do Funchal, falava no Tribunal da Comarca da Madeira, na terceira sessão do julgamento do caso da queda de uma árvore na freguesia do Monte, que provocou 13 mortos e dezenas de feridos em 15 de agosto de 2017.
Questionada pela presidente do coletivo de juízes, Joana Dias, se existia “alguma maneira de prever” a queda do carvalho, Idalina Perestrelo respondeu que, “jamais, nem sequer em pesadelos, alguém preveria uma coisa deste género”.
Sobre a causa da queda da árvore, a arguida disse não ter uma resposta até à data, defendendo que não foi possível identificar uma razão que seja a única responsável pelo sucedido.
A arguida salientou que “não foi identificada nenhuma doença concreta nas raízes”, apontando que “havia, sim, um ramo deficitário”.
“Aquilo que os peritos nos disseram é que houve um conjunto de fatores que podiam ter provocado a queda. […] Daquilo que tenho conhecimento, nos relatórios, não se chegou a uma conclusão específica”, sublinhou, por outro lado, quando questionada pela juíza sobre um dos relatórios técnicos (posterior ao incidente), que identificava “uma podridão na parte central da raiz”.
Joana Dias perguntou também se o facto de o carvalho estar num sítio inclinado, juntamente com o problema da raiz e as vibrações mecânica, terá contribuído para a sua queda.
“Com certeza houve ali um conjunto de fatores […]. Não consigo dizer que foi especificamente disto ou daquilo”, reforçou a arguida, em resposta à juíza.
Segundo a ex-autarca, o município nunca recebeu alertas sobre os carvalhos do Largo da Fonte, mas sobre os plátanos.
Durante a sessão do julgamento, Idalina Perestrelo emocionou-se ao recordar aquele dia, em que se encontrava no local.
“Eu, como tinha a responsabilidade, senti ainda mais aquilo que estava a acontecer ali”, afirmou.
A arguida lamentou “tudo o que aconteceu” e garantiu que sempre trabalhou, bem como todos os que consigo trabalharam, “com responsabilidade para que as coisas fossem bem feitas”.
“Sempre trabalhei com todos na base da confiança, do rigor e do profissionalismo de cada um, e isso fez com que confiasse neles”, salientou.
A ex-vice-presidente da Câmara do Funchal assegurou ainda que, “se alguma vez fosse necessário fazer algum abate” no Monte, “por questões de segurança ou por não estar saudável, isso seria feito com toda a certeza”.
Por seu turno, um advogado de algumas das vítimas colocou em causa a ausência de formação técnica da arguida nas áreas que tutelava, questionando “por que motivo aceitou estes pelouros se não tinha formação para eles”.
“Não sei se está a diminuir ou não as minhas competências, mas senti-me competente o suficiente e responsável o suficiente para assumir este cargo”, respondeu Idalina Perestrelo.
O julgamento deste caso teve início em 12 de abril com uma curta sessão marcada pela ausência dos dois arguidos, tendo depois sido adiado por diversas vezes devido a greves dos funcionários judiciais.
O ex-chefe da Divisão de Jardins do Funchal Francisco Andrade e Idalina Perestrelo estão acusados da prática, em autoria material, de 13 crimes de homicídio negligente, respondendo também por 24 crimes de ofensa à integridade física por negligência.
Em 15 de junho, o arguido foi ouvido em tribunal, tendo considerado “incompreensível” a sua pronúncia para julgamento, argumentando que a árvore “estava em boas condições”.
Em 15 de agosto de 2017, no decorrer das cerimónias religiosas em honra da Assunção de Nossa Senhora, uma festa também conhecida por Dia da Nossa Senhora do Monte, a padroeira da Madeira, num dos mais concorridos arraiais do arquipélago, um carvalho com cerca de 150 anos caiu sobre a multidão que aguardava a passagem da procissão.
A queda provocou 13 mortes (duas das quais de cidadãos estrangeiros, de nacionalidades francesa e húngara) e cerca de meia centena de feridos.
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