Opinião
Na fronteira do conhecimento sobre o Cosmos
ANTÓNIO PIEDADE
«Esta história fala de uma busca de compreensão da natureza no seu nível mais profundo. Os seus protagonistas são os cientistas que se esforçam por alargar o nosso conhecimento das leis básicas da física. O intervalo de tempo que irei abordar — aproximadamente desde 1975 — é o do meu próprio percurso profissional como físico teórico. Poderá ser também a mais estranha e frustrante época na história da física desde que Kepler e Galileu iniciaram o nosso ofício, há quatrocentos anos.»
Esta é uma passagem da introdução de um livro fantástico escrito pelo prestigiado físico teórico Lee Smolin (http://leesmolin.com/). O livro, intitulado «O Romper das Cordas», foi publicado entre nós no final de Abril de 2013 pela Gradiva, na sua colecção Ciência Aberta, nº 199, com o subtítulo «Ascensão e queda de uma teoria física e o futuro da Física». A edição original, «The Trouble with Physics», penúltimo livro do autor, foi publicada em 2006. Esta versão portuguesa foi traduzida por Daniel Tiago Alves Ribeiro e teve a revisão científica de Carlos Fiolhais.
Escrito de uma forma extraordinariamente acessível, este livro foi considerado como o melhor livro do ano por The Economist e Seed.
De facto estamos perante um dos melhores livros de divulgação para leigos sobre a nossa melhor compreensão contemporânea do Universo. Um livro sobre a aventura da Física na descoberta das leis que descrevem e explicam o comportamento e as propriedades de tudo o que conhecemos, desde as partículas fundamentais até à expansão do Universo, desde o “Big Bang” até aos buracos negros. Um livro que nos permite entender o caminho percorrido desde Galileu até à Física contemporânea, com particular enfoque para a teoria das cordas.
Ao longo do livro Lee Smolin guia o leitor pela história da Física e descreve, numa linguagem impressionantemente clara, o estado actual desta ciência. Sublinhe-se que o autor explica de forma simples, mas rigorosamente, as várias teorias que emergiram principalmente ao longo do século XX, e como estas e os seus autores se relacionaram com a verificação experimental das suas previsões.
O autor, ele próprio um participante activo desta aventura humana, escreve na primeira pessoa. Esse tom pessoal (a física é feita por pessoas), repleto de uma emoção debruada por uma elevada honestidade intelectual, pano de fundo deste livro, acompanha o leitor através do relato e descrição dos sucessos e os insucessos da Física. «A história que escrevo» – diz-nos na introdução – «poderia ser lida por alguns como uma tragédia. Falando muito francamente — e deixando-me de rodeios —, nós falhámos. Herdámos uma ciência, a física, que tinha vindo a evoluir tão rapidamente, e durante tanto tempo, que muitas vezes era tida como exemplo do modo como as outras ciências deviam ser feitas. Há mais de dois séculos, até ao momento actual, a nossa compreensão das leis da natureza cresceu rapidamente. Mas hoje, apesar dos nossos esforços, o que sabemos com absoluta certeza sobre estas leis não é mais do que já sabíamos na década de 1970.»
Com este livro, Lee Smolin faz, de forma corajosa, um ponto da situação sobre o conhecimento da Física actual, indicando as dificuldades reais que os físicos enfrentam. Este também é um livro sobre como é feita a melhor e a pior ciência, sobre a distância entre as melhores e mais elegantes teorias e a sua verificabilidade com a realidade.
Numa época em que a ciência possui o maior e mais complexo instrumento de experimentação sobre a natureza da matéria (o grande acelerador de partículas do CERN), a leitura deste livro permite que os leigos compreendam o que se está a tentar descobrir e porque é que se estão a fazer determinadas experiências e não outras.
É um livro sobre o dia-a-dia da ciência Física contemporânea, cuja leitura se recomenda para uma melhor cidadania.
ANTÓNIO PIEDADE
Investigador
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
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