Portugal
Corpo Nacional de Escutas cumpre centenário com aposta na inclusão
O escutismo católico português que, no sábado, comemora o primeiro centenário da sua criação, quer assumir-se como movimento de integração de jovens de outros países e de outras culturas que venham para Portugal.
Defendendo que “o escutismo católico em Portugal continuará a ser um movimento de fronteira, que trabalha junto dos jovens, a partir do ponto em que eles estejam”, Ivo Faria, chefe nacional do Corpo Nacional de Escutas (CNE), perspetiva que será, também, “um movimento de evangelização, dentro dos batizados, mas também de portas abertas para acolher crianças e jovens de outros países, de outras culturas que venham para Portugal”.
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“E nesse acolhimento, ajudar as famílias a integrar-se no nosso país e a diminuir as desigualdades”, afirmou Ivo Faria, em declarações escritas à agência Lusa, a propósito do centenário do CNE, cujas comemorações decorrem no sábado, sendo esperada a presença do Presidente da República.
Para este responsável, a celebração que decorrerá em Braga – cidade de entrada do escutismo católico em Portugal há um século – “marca o trabalho continuado de voluntários e de comunidades locais que acolhem [o movimento] desde 1923. Por todo o território nacional, são mais de 1.400 grupos locais que, ao longo destes 100 anos, foram criados e ajudaram os jovens a ser cada vez mais cidadãos ativos e comprometidos com as suas comunidades e com o bem comum”.
Ivo Faria admite que a pandemia de covid-19 foi um tempo problemático para os escuteiros, com o CNE a perder cerca de oito por cento do efetivo nesse período.
Porém, nesses meses, “foi feito um esforço muito grande de manter os grupos locais abertos e a funcionar, reinventando atividades à distância, mantendo a ligação com os pais e com a comunidade”.
“Por exemplo, recolhemos 70 toneladas de bens alimentares para a campanha extraordinária do Banco Alimentar de 2020. Realizámos um ‘acampamento’ nacional, com mais de 15 mil jovens, cada um na sua casa, montando a tenda na sala, no jardim, terraço”, explicou o chefe nacional.
Segundo Ivo Faria, com a saída da pandemia, os escuteiros saíram “reforçados e com mais motivação” para se reunirem de novo.
Quando isso aconteceu, “a cada abraço, parecia que já não estávamos juntos há muitos anos”, reconheceu, acrescendo que o CNE, entretanto, “recuperou quase a totalidade do efetivo perdido. Só este ano, entraram mais de 10 mil novos escuteiros”, sendo o total do efetivo cerca de 67 mil.
Com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) à porta, o responsável destaca o papel que os jovens do CNE vão desempenhar no encontro mundial com o Papa.
“O CNE participa de duas formas: em primeiro lugar, motivando os seus jovens a participar na JMJ. Iremos ter muitos milhares de jovens escuteiros integrados nos grupos de jovens paroquiais a viver a pré-jornada nas dioceses e ainda a semana de Lisboa”, revelou.
A segunda vertente é a dos voluntários: “Teremos muitos voluntários a apoiar nas mais variadas áreas da JMJ. Estamos também a receber ofertas de escuteiros de outras nações (lusofonia e outros países mais próximos, como a Espanha e a França) que querem ajudar. Além disso, temos a responsabilidade de assegurar o ‘check-in’ de todos os participantes na JMJ”.
Um dos temas que, nos últimos meses também envolveu os escuteiros foi o dos abusos sexuais, tendo a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal incluído no seu relatório sete casos no interior do movimento ainda não conhecidos pelo CNE, a que se somaram 19 situações que já existiam nos arquivos da instituição.
Ivo Faria sublinhou à agência Lusa que o CNE tem “um código de conduta, manual de boas práticas, uma plataforma de reporte de situações, que apoia uma estrutura de suporte para lidar com os casos e apoia as vítimas, também com uma rede de psicólogos. Todos estes meios foram sendo construídos há mais de 10 anos”.
Assim, a reação perante as revelações da Comissão Independente “foi a de compreender que o CNE, apesar de ter registos de alguns casos, é um movimento seguro, que tem instrumentos para a proteção de crianças e jovens, através da prevenção, identificação e reação a situações detetadas”.
“Também promovemos formação para todos os voluntários, sobre a proteção de crianças e de jovens, em temas que incluem os abusos sexuais, mas que vão para além disso”, incluindo outros abusos, o ‘bullying’, a internet segura e as dependências, afirmou, revelando a aposta “no desenvolvimento de ferramentas para formar as próprias crianças e os jovens para a prevenção e identificação de casos”.
Quanto aos eventuais efeitos das notícias de abusos na atividade do CNE, “não foi notada uma redução do efetivo”, antes “pelo contrário”, tem-se verificado um crescimento, segundo Ivo Faria.
E é com este panorama que, neste sábado, o chefe nacional do CNE vai dizer que os escuteiros devem “sempre ser fiéis” à sua “Promessa escutista”, estando “disponíveis para encontrar o outro e, nele, Cristo”.
“Que não deixem de sonhar e de construir o amanhã dos seus sonhos. O segundo centenário começa agora”, vai ainda apelar Ivo Faria perante os 23 mil escuteiros esperados em Braga.
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